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terça-feira, 18 de julho de 2017

Gargalos da Educação Pública e o futuro




Joaquim Luiz Nogueira 

De acordo com o texto de Opinião de Maria Alice Setubal, publicado pelo Jornal Folha de S. Paulo (18/07/2017), podemos destacar algumas particularidades interessantes do ponto de vista filosófico, mais que podem esclarecer melhor o gargalho da Educação Pública. Trata-se do pensamento de que “os perfis e as histórias de vida desses jovens sejam múltiplos”.
A palavra “múltipla” implica algo no campo do diverso ou do inúmero, isto é, entra na categoria do simbólico. Falar que as histórias de vida desses jovens são múltiplas, significa que eles são muito diferentes daquilo que a escola tenta aplicar via currículo. Este último evoca disciplina e programação determinada para cada etapa de um ano/série.
A criança de 11 e 12 anos, fase em que ela se dá conta de seu corpo e também da diversidade que o cerca. Neste momento, a criança é uma porta aberta para essa infinidade de coisas e objetos que estão a sua volta.
É uma das primeiras oportunidades, pois a criança já tem um corpo forte e pode se lançar nesta aventura da descoberta do mundo, segundo seu ponto de vista. É uma tentativa de fuga do mundo programado do currículo, elaborado por pessoas que se encontram no topo de uma sociedade sistêmica. 

Para o sistema social, nesta fase, a criança deve se engajar numa cadeia de valores e comportamento criados para moldá-la a partir do ponto de vista necessário a grande produção capitalista dominante. O sistema vê a criança como vulnerável, pois neste momento, ela ainda não vê nenhum sentido em aprender coisas do currículo programado para sua idade.
A multiplicidade vista pela mentalidade infantil não se compara de forma alguma as 8 disciplinas que lhe são impostas dentro de uma escola. Trocar a oferta das ruas pela obrigatoriedade de permanecer por 6 horas em um prédio escolar só irá ocorrer contra a vontade da criança.
Essa missão de programar a criança de 11 e 12 anos, quando ela já experimentou a liberdade de um mundo livre, sem regras, valores ou obediência ao mundo do trabalho, torna-se algo muito difícil de fazer. Neste universo do múltiplo, a escolha de ser trabalhador (a) é apenas uma das muitas opções oferecidas pela liberdade. 


O segundo gargalho da educação ocorre na fase dos 14 e 15 anos, nesta fase, o adolescente tem sua segunda crise de valores, principalmente aqueles que ainda sonham com um mundo de liberdade, diferente da programação do currículo, ou seja, aquela que após 4 ou 5 anos de escolaridade, para ele, que foi obrigado a frequentar pelo menos de forma irregular, continua a não fazer nenhum sentido frente a sua realidade de inúmeras outras opções de vida.
Se o primeiro gargalho já apresenta uma fuga de 15%, o segundo pode se falar de 25% a 30% dos jovens que embora tenham consciência deste mundo do trabalho, programado por currículo e difundido pelas escolas via pensadores do topo político da educação, preferem lutar por outras formas de sobrevivência, diferente daqueles que frequentam escola e como afirma Setubal “E aqueles que lá estão não aprendem”.
Esta parcela que hoje já está em 30% (evasão) na maioria das escolas, dentro de mais alguns anos, somadas com aqueles que estão na escola e que não aprendem, atingirá algo em torno de 70% dos jovens em áreas urbanas. Para esta nova geração, a programação ou currículo será muito flexível e tudo vai passar por escolha.
As empresas e os profissionais que sobreviverem nesta fase serão especializados para agradar e prever os desejos de uma massa imediatista e violenta, pois não toleram a contrariedade. Devem se movimentar em grandes grupos, liderados pela ideia de poder, aparência e prazer imediato.  

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