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quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

Inclusão e Pluralidade

Jaquim Luiz Nogueira


Aqueles que não foram escolhidos como participantes do topo do grande capital se transformaram na base para todas as políticas de Estado, cujas normas e condutas se derivam do ponto de vista das condições daqueles que foram excluídos. Walter Benjamin chamou esta versão de messiânica, ou seja, para ele foi uma alternativa para se contrastar com o progresso capitalista.
Para alguns teóricos como Hannah Arendt e Judith Butler, trata-se da noção kantiana de Juízo reflexivo, que considera o ponto de vista dos outros na ação do pensamento. Neste aspecto, o pensar implica numa socialidade ou pluralidade, espécie de processo psicológico por meio do exercício do julgar.
Arendt, por sua vez, adverte os povos sobre a política que promove a incapacidade de pensar nas pessoas, isto é, de exercerem o juízo independente, de criticarem e de poderem se distanciar das exigências que as políticas lhes impõem. Deve-se pensar sobre as normas que governam a política e evitar a obediência cega ou agir como o governante agiria.
Segundo o pensamento de Arendt, muitas pessoas se tornaram historicamente instrumentos de políticas genocidas, pois perderam a capacidade de pensar, sendo formadas de modo que não lhes foram mais possível o pensar. Elas passaram agir sem julgar, formulando e executando leis brutais de forma normatizada, constituindo o fracasso em pensar e julgar, portanto, não exercem a liberdade necessária para se transformarem numa pessoa.
A pluralidade de acordo com Butler é constituída pelo juízo, ou seja, uma representação da própria pluralidade e, desse modo, o diferente é a base do juízo, espécie de voz legítima, pois esse fala como um “Nós” . Este último torna-se o veiculo da esperança ao preencher com visões discordantes, emotivas e divididas, iniciativas plurais que formam algo não depende de nenhuma lei existente.
De acordo com Hanna Arendt, a responsabilidade das pessoas não pode ser entendida como uma lealdade acrítica. Ela acrescenta que, às vezes a desobediência é justamente nossa responsabilidade. As pessoas devem salvaguardar a pluralidade humana, principalmente o ato de pensar e de julgar que constituem o indivíduo.
Pensar implica pluralidade, estar na companhia dos outros e agir em comum com eles. É a linguagem o tipo de ação que dá existência a uma realidade, sendo que, o pensamento é germinado pela ação, e esta, tem a socialidade como aquilo que o antecede ou permite o pensar.
A socialidade se torna uma característica incentivadora em todo e qualquer pensamento, sendo o diálogo, algo que não pode ser separável da pluralidade, e isto, é que torna possível a existência do indivíduo. A pluralidade é o lugar do pertencimento, da luta, da preservação da heterogeneidade da vida humana.
A interdependência que constitui as pessoas como seres pensantes, sociais, corporalizados, vulneráveis e passionais. Tais modos de interdependência são movidos por política social.

Fonte;

Butler, Judith, Caminhos Divergentes: judaicidade e critica do sionismo: São Paulo, Boitempo, 2017. 

quinta-feira, 11 de janeiro de 2018

Cultura da Pluralidade no Espaço da Escola


Joaquim Luiz Nogueira

Segundo Hannah Arendt, filósofa alemã de origem judaica (1906 – 1975), qualquer Estado fundado na ideia homogênea de nação estaria fadado a expulsar quem não pertencesse à nação e, assim reproduziria a relação estrutural entre Estado-nação e a produção de pessoas apátridas.


O filósofo e sociólogo alemão e também de origem judaica Walter Benjamin (1892 – 1940), definiu essas pessoas sem pátria como escombros, espécie de ruínas e que na medida em que a história do progresso avançasse essa expulsão continuaria.
Neste aspecto, Arendt, declarava que para ter legitimidade, todo Estado teria de aceitar e proteger a heterogeneidade de sua população, isto é, a pluralidade. Dessa maneira evitava-se o avanço das pessoas apátridas, expulsas ou excluídas.
Para Arendt, a heterogeneidade cabia a todos os países a partir de algum ponto do século XIX, ou pelo menos se tornou um problema explícito para o Estado-nação desde Vestfália (A Paz de Vestfália “sec. XVII“ marcou o início da hegemonia da França na Europa e do declínio do poder Habsburgo), pois afirmou a supremacia do poder temporal (não religioso) sobre o papado, um aspecto fundamental para a consolidação do poder monárquico nos países europeus.

 Em outros pontos, no entanto, Arendt, parece estabelecer uma ontologia da Pluralidade. A pluralidade de todas e quaisquer populações passa a constituir como precondição da vida política, e qualquer Estado político, política pública ou decisão que vise eliminar ou limitar a pluralidade é tida como racista, quiçá genocida.
Segundo Arendt, a coabitação (vida em comum) era uma precondição da vida política, e embora, até certo ponto, possamos escolher com quem dividir uma cama ou uma vizinhança, não podemos escolher com quem coabitar a Terra. Essa coabitação continua sendo a condição não escolhida de todas as decisões políticas, se tais decisões não forem genocidas.
Nos termos de ARENDT, todo mundo deve ter o direito de pertencer, pois, os modos de pertencimento existentes não fundamentam ou justificam esse direito como fundamental para cidadania. É este aspecto de “modo de pertencimento” que vamos buscar entendimento no espaço da escola, já que segundo pesquisa de Paula Almeida de Castro, Professora Adjunta/Departamento de Educação – UEPB, Camila Matos Viana e Sarah Thalita Guimarães Costa, ambas na graduação de Pedagogia da UEPB, descreveram que os aspectos da identidade que balizam a noção de pertencimento.
Para Castro, são complexas tessituras das quais emergem o sujeito escolar contemporâneo, diversas formas de construção de identidades pelo aluno no interior da escola, sugerem que este recrie para si, em diferentes momentos, o papel de aluno.
Na escola, descreve Castro, o estudante tenta se adaptar a uma nova condição identitária interposta em diferentes momentos de sua vida escolar. O sujeito flexibiliza suas ações, atitudes e valores de modo a tornar-se aluno para si e para os outros que permeiam o espaço da escola e da sala de aula.
 O fracasso escolar, por exemplo, segundo a pesquisa de Castro “é, quase sempre, associado aos relacionamentos interpessoais e ao comportamento do aluno. Dessa forma, entende-se que é pelo somatório entre as tensões das experiências positivas e das negativas e/ou traumáticas que o indivíduo pode, em seu processo identitário, tornar viáveis as suas formas de pertencimento dentro e fora das escolas”.
Para Castro, as escolas “podem ainda possibilitar que o sujeito esteja mais habilitado e flexível para adaptar-se a novas situações que, por sua vez, vão demandar novos conhecimentos”. Neste sentido, o espaço escolar é caracterizado como lugar onde se amplia as conquistas e experiências dos alunos, tanto positivas como as negativas.
O espaço da escola deve compreender segundo Castro, que as estratégias dos alunos indicam que as identidades não são fixas, são sempre inacabadas e em contínuo processo de construção. Elas se desenvolvem pelo agir em um mundo em mudança, sobretudo na contemporaneidade.
A escola torna-se o palco de todas as articulações ao mesmo tempo, cujas manifestações e o progresso de cada identidade, assim como as transformações de acordo com Castro, “acontecem no espaço de “fora” – que modifica a condição de vida – quanto no espaço de “dentro” – trabalhando as condições individuais”
Portanto, muitas vezes temos a sensação de que as transformações do espaço escolar nas periferias ocorrem por uma espécie de ampliação das ruas, das moradias e da cultura de suas clientelas, enquanto pessoas apátridas nos termos de Arendt ou da vontade dos escombros como chamou Benjamin.
A escola, os funcionários, gestores e professores não podem escolher quem deve ou não matricular-se ou ocupar a sala de aula, pois, nos termos de ARENDT, todo mundo deve ter o direito de pertencer e de seu modo. Dessa maneira, a pluralidade de todas e quaisquer populações passa a constituir como precondição da escola, da vida política, e qualquer Estado político, política pública ou decisão que vise eliminar ou limitar a pluralidade é tida como racista, quiçá genocida.


Fonte:
Veja mais em https://educacao.uol.com.br/disciplinas/historia/paz-de-vestfalia-acordo-entre-paises-europeus-encerrou-a-guerra-dos-trinta-anos.htm?cmpid=copiaecola
IDENTIDADE, PERTENCIMENTO E RESILIÊNCIA NO CONTEXTO ESCOLAR: UM ESTUDO ETNOGRÁFICO NA PERSPECTIVA DE ALUNOS COMO / PESQUISADORES Paula Almeida de Castro Professora Adjunta/Departamento de Educação – UEPB Camila Matos Viana Graduanda de Pedagogia – UEPB Sarah Thalita Guimarães Costa Graduanda de Pedagogia – UEPB http://www.editorarealize.com.br/revistas/fiped/trabalhos/Trabalho_Comunicacao_oral_idinscrito_1200_425fdbb52737d5336e38efb0940f6092.pdf

Judth Butler, Caminhos Divergentes/Boitempo