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domingo, 18 de dezembro de 2011

Botucatu e sua arquitetura histórica

Prof.Joaquim Luiz Nogueira, Historiador, Pedagogo e Mestre em Comunicação e semiótica pela PUCsp.
                                                                         Saiba nais sobre o autor: http://jolnogueira.wix.com/gestaodosucesso#!gestarsucesso/mainPage


Um dos elementos que nos atrai nessa arquitetura histórica botucatuense é o emprego da chamada Art Nouveau (Arte Nova), com origem na França do século XIX, espalhou-se para outros países e chegou ao Brasil a partir do Pará, segundo Freyre:
(...) a progressiva capital do Pará nos grandes dias da borracha, em papel coché. Luxo que se conciliava com os dos boulevards, o das obras de ferro rendilhado mandados vir da Europa já feitas por artistas europeus, o dos jardins, o da arquitetura Art Nouveau, com que o chamado “oligarca” abrilhantava a Velha Santa Maria do Belém. E do Pará espalhou-se pelo Brasil. (FREIRE, 1959 p. 474)




A origem da guirlanda, assim como da roseta, de acordo com o Professor de mitologia americano Joseph Campbell, ambas nos remetem as antiguidades orientais e a simbologia do circulo ou da mandala:
Mandala é a palavra sânscrita para “circulo”, mas um circulo que é montado ou desenhado simbolicamente, o que lhe permite adquirir um significado de ordem cósmica. Ao compor mandalas, você está tentando coordenar seu circulo pessoal com o universal ( CAMPBELL, 1990 p.227.



Mas, voltando ao arranjo floral do prédio da Rua Amando de Barros, podemos observar que no interior da Roseta temos um elemento que foge ao orientalismo e nos instiga a perguntar o significado. E para decifrarmos o enigma, Gilberto Freyre nos fala sobre a tentativa dos portugueses em mesclar motivos florais e zoomórficos na arquitetura:
A união da escultura decorativa oriental com a arquitetura ocidental, levada pelo português da Europa ao Oriente, tomou relevo em edifícios não só monumentais, como médios construídos desde o século XVI no Oriente. Talvez venha dessa união de escultura decorativa de gosto oriental – embora essa própria estrutura o português a tenha adaptado as condições não europeias, principalmente tropicais, de clima, de luz, de ecologia, valendo-se ao que parece, de lições para ele aprendidas como mouro desde dias remotos – o desenvolvimento no Brasil e no próprio Portugal, da utilização em frontões e portas de igrejas e não apenas na decoração de exterior ou interior de palácios, de motivos florais e zoomórficos inspirados na natureza tropical: abacaxis, palmas, leões. (FREYRE, 1962, p.196).

Nesse caso ficaremos com a sugestão de Freyre, isto é, o artesão incluiu uma folha de palma, vegetação de caatinga, mas é encontrada em diversas regiões brasileiras. E se observarmos com mais atenção, ainda vemos traços que cruzam a folha, mesmo que o artista prefira as terminações curvilíneas do Art Nouveau nas extremidades. E logo abaixo, outro edifício decorado com elementos florais e zoomórficos, também mostra a figura de um leão inspirada na natureza tropical.



Vejamos mais um edifício botucatuense cuja fachada apresenta dois leões e ambos estão com seus corpos voltados para uma miniatura de torre em forma de botão de flor, e que desabrocha como cálice, continuando fortalecida para produzir novamente novas gerações semelhantes.


De acordo com Edgar Morin, a arquitetura do final do século XIX e início do século XX conserva traços da cultura ilustrada, cujos ornamentos mostram uma necessidade de uma civilização da força, do poder e da riqueza:
A cultura ilustrada aparece como uma espécie de supercultura, uma quintessência, o suco mais sutil que a sociedade pode produzir. E isso tem dado como resultado, até as crises recentes, sua extrema valorização aos olhos tanto dos seus possuidores como daqueles que não a têm. Ela parece, de fato, conter a um tempo uma universalidade essencial (...) e, por isso mesmo, a espiritualidade que é a máscara, a falta, o ornamento, a necessidade de uma civilização da força, do poder e da riqueza. (MORIN, 2006,p.81,82).
No Brasil do final do século XIX e início do século XX, as riquezas advindas das culturas da borracha na Região Norte e da cafeicultura no Sudeste, introduziram soluções arquitetônicas sofisticadas por mesclas culturais:
Os palacetes e casarios do potentado local (...) introduziram soluções arquitetônicas sofisticadas, pontuadas por orientalismo, colunas greco – romanas, volutas e rebuscada curvas art nouveau, que pasmavam as vistas daqueles recém desembarcados (SHAPOCHNIK in SEVECENKO, 2006, p.197).



A mescla de diversos elementos culturais na arquitetura brasileira desse período corresponde, segundo Francastel, no empenho artístico em fixar elementos móveis do contínuo que foge da percepção, juntamente com sistemas lineares, estabilizados e simétricos:
Os artistas do final do século XIX e início do século XX empenharam-se em fixar elementos móveis do contínuo que foge da percepção para integrá-los em sistemas abertos e não mais rigorosamente simétricos, isto é, estabilizados, eles se esforçaram por aprofundar a experiência do ritmo. (FRANCASTEL, 1993, p.197).
Os arranjos arquitetônicos do prédio acima trabalham com a ideia de linearidade mesclada as curvas elegantes do arco romano, acrescentadas as guirlandas e máscaras da Art Nouveau. Não faltando o toque das colunas gregas, orientalismos e as janelas semelhantes a portas para aproveitamento do clima e da luz em áreas tropicais.


Na imagem abaixo, temos uma fachada que empregou duas máscaras humanas em estilo Art Nouveau:


Ainda na mesma rua, encontramos um prédio com traços da arquitetura chamada Jesuítica, muito comum nas construções das missões no Sul do Brasil, mas não deixa de incorporar rosetas e no alto de suas colunas a concha, que segundo Vlademir Alves de Souza, pertence ao estilo rococó francês (1715-1774), reinado de Luis XV. (SOUZA, 1980, p.61)



E na esquina da Rua Floriano Peixoto com a Av. Santana, temos uma obra maravilhosa da arquitetura eclética ou histórica, pois mescla elementos culturais, tais como: orientalismo com máscara de leões e rosetas, Art Nouveau, arco romano e traços da arquitetura jesuítica.




A imagem enigmática situada dentro do arco e que figura uma ave de asas abertas, mas que, no lugar das penas, localizam-se florais simulando voo, significa a criatividade regional, que segundo Lúcio Costa, é produto espontâneo das necessidades e conveniências da economia e do meio físico e social. (COSTA, 1980, p.11).

Veja também
http://gestaodosucesso.blogspot.com/2011/10/uma-leitura-da-fachada-da-escola.html

Referencias Bibliográficas

CAMPBELL, Joseph. O poder do mito. (Entrevista a Bill Moyers). Org. Betty Sue Flowers. Trad. Carlos Felipe Moisés. São Paulo: Palas Athena, 1992.
_________, Joseph. Imagem mítica. Campinas, São Paulo: Papirus 1994.
COSTA, Lúcio. Arquitetura. Rio de Janeiro: Bloch Fename, 1980.
FRANCASTEL, Pierre. A realidade figurativa. São Paulo: Perspectiva, 1993.
FREYRE, Gilberto. Ordem e Progresso. Rio de Janeiro: Editora José Olimpio, 1959.
______, Gilberto. Vida, forma e cor. Rio de Janeiro: Record, 1987.
MORIN, Edgar. Cultura de massas no século XX: neurose. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2005.
______, Edgar. Cultura de massas no século XX: Necrose. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2005.
______, Edgar. O Método 5: a natureza da natureza. Porto Alegre: Sulina, 2005.
SCHAPOCHNIK, Nelson. Catões-postais, álbuns de família e ícones da intimidade in SEVCENKO, Nicolau. (org.) História da vida privada V.3. República: da Belle Époque à Era do Rádio. São Paulo: Companhia das Letras, 1998, p.423-512.
SOUZA, Vlademir Alves de. Artes Plásticas II V.9 Rio de Janeiro: Bloch Fename, 1980.

domingo, 11 de dezembro de 2011

Acreditar é humano

Esse é mais um texto de MARCELO GLEISER que faço questão de divulgar em meu blog. Em negrito, algumas frases que selecionei como de grande importância no texto.

MARCELO GLEISER

Acreditar é humano

A religião nasceu da união de reverência e necessidade. E, assim, continua definindo como a maioria vê o mundo

O ser humano é um animal acreditador. Talvez esse seja um bom modo de definir nossa espécie. "Humanos são primatas com autoconsciência e a habilidade de acreditar." Já que " acreditar" sempre pede um "em quê?", refiro-me aqui a acreditar em poderes que transcendem a percepção do real, algo além da dimensão da vida ordinária, além do que podemos perceber apenas com nossos sentidos.

Eu me pergunto se a necessidade de acreditar em algo (não uso a palavra "fé", pois essa tem toda uma conotação religiosa) é consequência da consciência. Será que outras inteligências cósmicas também acreditam?

Parece que somos incapazes de viver nossas vidas sem acreditar na existência de algo maior do que nós, algo além do "meramente" humano. Bem, nem todos nós, mas a maioria. Isso desde muito tempo. Para os babilônios e egípcios, os céus eram mágicos, a morada dos deuses, ponte entre o humano e o divino. Interpretar os céus era interpretar mensagens dos deuses, muitas vezes dirigidas a nós mortais.

Essa divinização da natureza é muito mais antiga do que a civilização. Pinturas rupestres, os símbolos mais antigos da expressão humana, já demonstram a atração que nossos ancestrais nas cavernas tinham pelo desconhecido, sua reverência por poderes além de seu controle. As pinturas de animais representavam encantamentos, uma mágica gráfica criada com o objetivo de auxiliar os caçadores em sua empreitada, cujo sucesso garantia a sobrevivência do grupo.

Fico imaginando o poder que essas imagens -que dançavam à luz do fogo- exerciam sobre o grupo reunido na caverna, uma tentativa de recriar a realidade para ter algum controle sobre ela. A religião nasceu da combinação de reverência e necessidade. E assim continua, definindo como a maioria dos humanos vê o mundo.

Mesmo após termos desenvolvido meios para explorar fontes de energia da natureza, estamos ainda à mercê dos elementos. Muitos chamam enchentes, tornados, erupções vulcânicas ou terremotos de atos divinos, representando forças além do nosso controle.

A ciência, claro, atribui esses desastres a causas naturais, o que acarreta abandonar a crença de que a fé pode nos ajudar de alguma forma a controlá-los. Fica difícil, hoje em dia, rezar para o deus do vulcão ou para o deus da chuva.

Esse é um desafio para a ciência e para os seus educadores: a ciência pode explicar, às vezes prever e, até certo ponto, proteger-nos de desastres naturais. Porém, não pode competir com o poder da crença na imaginação humana, mesmo na completa ausência de evidência de que possa nos proteger contra desastres naturais.

O mundo estava cheio de deuses no início da história da nossa espécie e, para muitas pessoas, assim continua. A resposta, parece, não é tentar transformar a ciência numa espécie de deus, substituindo uma crença por outra, mas, ao contrário, mostrar que vidas podem ser vividas sem a crença em poderes divinos cuja intenção é nos manipular, seja para o bem ou para o mal.

Talvez a maior invenção da vida na Terra tenha sido essa espécie de primatas com a capacidade de imaginar realidades que a transcendem.

MARCELO GLEISER é professor de física teórica no Dartmouth College, em Hanover (EUA), e autor de "Criação Imperfeita"

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ciencia/14143-acreditar-e-humano.shtml Acesso em 11 de Dezembro de 2011.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

A leitura do mundo que nos cerca e como interpretá-lo?


Joaquim Luiz Nogueira

No livro acima o autor Joaquim Luiz Nogueira busca mostrar aos seus leitores logo de início, algumas maneiras de se renovarmos a partir do que vemos, Vejamos:

“Assim, dividimos, redistribuímos, comparamos ou multiplicamos os objetos e os conceitos que chegam à nossa consciência. Tornamo-nos criadores de universos, de mundos próprios, fechados, protegidos e ditatoriais.
Esses lugares tão vigiados pela consciência tornam-se recintos nos quais preservamos somente as coisas boas que resultam de nossas experiências cotidianas. De outro lado, tendemos a ignorar nossas fraquezas ou temores quando falamos deles aos outros. Nosso intento é fabricar mundos perfeitos em nossa consciência e projetá-los com confiança para os que se encontram ao nosso redor. Criamos e passamos a defender esses pequenos universos imaginários por meio dos quais interagimos com as pessoas com quem convivemos ou nos relacionamos de algum modo num contexto social.(NOGUEIRA,2009)

Dessa forma estamos respirando algo entre o local e o externo, porém, quanto mais diversificado o ambiente ao seu redor, melhores serão as oportunidades de escolhas. A capacidade somática humana em ver as coisas de forma perfeita, negando o que não representa a vontade individual, amplia assim, imagens, palavras, sons, cores e demais elementos significativos e relevantes ao indivíduo. .

Temos muitos mundos ficcionais na mente humana, e eles nos orientam para fazermos substituições, combinações e equivalências, ditando dessa maneira a forma de existência. Definem também as opções teóricas, epistemológicas e metodológicas, as quais imprimem no indivíduo o modo de escolher, distribuir e hierarquizar sua existência.

As decisões sobre o que pretendemos fazer implicam em estados emocionais paralelos, que de certa maneira, também dependem das transformações ocorridas na prática, A qualidade dessas construções do campo das ficções, combinadas as necessidades reais, despertam a vontade do querer fazer, cujos gostos e atitudes tendem a imitar aquilo que corresponde a imagem idealizada, e que transforma as relações do próprio sujeito com o mundo.

Se o plano da ficção pode ser tocado pela mente, e esse, pode servir como observador externo, sendo capaz de ampliar os elementos que nos provocam efeitos de sentido. Abrem-se também outras dimensões capazes de nos comunicarem valores que ignoram tempo e espaço, atraindo assim, os sentidos do corpo, que experimentam outros níveis de existência por milionésimos de segundos.

Acreditamos que quanto mais viajarmos nesses lugares perfeitos ou permanecermos por lá, melhor será o aprendizado e a transformações das práticas cotidianas.

domingo, 13 de novembro de 2011

O cérebro determina o que é real? Marcelo Gleiser

Este texto de Gleiser nos convida para discussão sobre a realidade de cada pessoa. É um assunto muito interessante frente a tomada de decisão dos indivíduos..

Marcelo Gleiser
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ciencia/8564-o-cerebro-determina-o-que-e-real.shtml

O cérebro determina o que é real?

Estamos cercados de radiação eletromagnética que não vemos. O essencial é invisível aos olhos

Para que eu esteja escrevendo estas palavras, uma coreografia desconhecida organiza a ação coletiva de milhões de neurônios no meu cérebro: ideias emergem e são expressas em palavras, que datilografo no meu laptop graças à coordenação detalhada dos meus olhos e músculos. Algo está no comando, uma entidade que chamamos de "mente".
Segundo a neurociência moderna, nossa percepção do mundo é sintetizada em regiões diferentes do cérebro. O que chamamos corriqueiramente de "realidade" resulta da soma integrada de incontáveis estímulos coletados pelos cinco sentidos, captados no mundo exterior e transportados para nossas cabeças pelo sistema nervoso.
A cognição, a experiência concreta de existirmos aqui e agora, é uma fabricação de incontáveis reações químicas fluindo por bilhões de conexões sinápticas entre neurônios.
Eu sou e você é uma rede eletroquímica autossustentável, que se define através de sua atuação na malha de células biológicas que constituem o nosso corpo. Mas somos muito mais do que isso.
Somos todos diferentes, mesmo se feitos da mesma matéria-prima. A ciência moderna destituiu o velho dualismo cartesiano de matéria e alma em favor de um materialismo estrito. Hoje, afirmamos que o teatro do ser ocorre no cérebro e que o cérebro é uma rede de neurônios que se acendem e apagam como luzes numa árvore de Natal.
Ainda não temos ideia de como essa coreografia neuronal engendra a nossa sensação de existirmos como indivíduos. Vivemos nossas vidas convencidos de que a separação entre nós e o mundo à nossa volta é clara. Precisamos dela para construir uma visão objetiva da realidade que nos cerca.
No entanto, nossa percepção dessa realidade, na qual baseamos nossa sensação de existir como indivíduos, está longe de ser completa. Nossos sentidos capturam apenas uma pequena fração do que realmente ocorre à nossa volta. Trilhões de neutrinos vindos do coração do Sol atravessam nossos corpos a cada segundo.
Estamos cercados por radiação eletromagnética de todos os tipos-ondas de rádio, infravermelha, micro-ondas-sem nos dar conta disso. Sons escapam da nossa audição, grãos microscópicos de poeira e bactérias são invisíveis aos nossos olhos. Como disse a raposa ao Pequeno Príncipe: "O essencial é invisível aos olhos".
Nossos instrumentos em muito ampliam nossa visão, permitindo-nos "ver" o que escapa aos nossos sentidos. Mas a tecnologia tem limites, mesmo que esteja sempre avançando. Portanto, uma grande fração do que ocorre escapa e escapará à nossa detecção. O que sabemos sobre o mundo depende do que podemos medir e detectar.
Quem, então, pode determinar que sua sensação do real é a verdadeira? O indivíduo que percebe a realidade apenas com os sentidos? Ou o que amplifica sua visão com instrumentos diversos?
Obviamente, essas pessoas verão coisas diferentes. Se compararem o que chamam de realidade material, o conjunto das coisas que existem à sua volta, irão discordar completamente. Qual dos dois está certo? Eu proponho que nenhum está.

A política como farsa / Ferreira Gullar

Esse texto, embora muitos conceitos sejam dignos de reflexões e pesquisa, vale a pena sua leitura

Ferreira Gullar

A política como farsa
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrada/8590-a-politica-como-farsa.shtml

Como esse é o espírito do governo petista, todos os seus integrantes dançam ao som da mesma música

Todos sabemos que a sinceridade não é uma qualidade muito comum nos políticos, mesmo porque, se o candidato disser francamente o que pensa, provocará mais desagrado que agrado. Pelo sim, pelo não, prefere dourar a pílula. Mas isso não significa que a política seja, como há quem afirme, a arte de enganar os ingênuos. Se até Deus, segundo dizem, se vê obrigado a escrever certo por linhas tortas, imaginem um pobre mortal.

Mas, sem dúvida, há os que exageram, e eu incluo entre estes -sem lhes dar exclusividade- o pessoal do Lula. Antes de chegar ao governo, era contra tudo o que qualquer outro partido propunha, chegando ao ponto de se negar a assinar a Constituição de 1989 -chamada por Ulysses Guimarães de "Constituição cidadã"-, que veio restaurar a democracia no Brasil.

E só para ser do contra, aliás, não só: também para fazer de conta que era o verdadeiro defensor dos direitos do povo.

Essa mesma postura, de quem joga para a arquibancada, levou os petistas a denunciar os programas Bolsa Escola e Bolsa Alimentação, do governo Fernando Henrique, como uma espécie de esmola que humilhava os trabalhadores e os pobres em geral. Quando chegaram ao poder, fundiram os dois programas num só -o Bolsa Família- e deles se apropriaram.

Podiam admitir que haviam errado, mas, pelo contrário, fingem que era uma criação original sua. Do mesmo modo agiram com relação ao Plano Real, à Lei de Responsabilidade Fiscal e a tudo o mais que combateram e passaram a usar, como se os tivessem criado. Claro que quem assim age tem que estar mal na roupa, sempre tendo que fazer de conta, já que tem o rabo preso.

Confesso que, até bem pouco tempo atrás, não tinha visto as coisas por esse ângulo, embora me chamasse a atenção o modo como se comportavam os membros do governo Lula.

Guido Mantega, por exemplo, jamais fala como deveria falar um ministro de Estado. Pelo contrário, todo pronunciamento seu é sempre um autoelogio, exaltação à política econômica do governo, às vezes até afirmando, cabotinamente, ser ela superior à de todo e qualquer país do mundo.

Nessa mesma linha foi o lamentável pronunciamento da presidente Dilma, em viagem recente pelo exterior. Sem o devido respeito que um chefe de governo deve ter com os de outros países, criticou-lhes a política econômica e os aconselhou a aprender conosco a governar... Na verdade, mais uma vez jogava para a plateia, visando levar a opinião pública brasileira a orgulhar-se do governo petista, incomparável e único no mundo.

É atitude própria aos "salvadores da pátria" que, em nossa época, após a queda do Muro de Berlim, empurrou parte da esquerda latino-americana -a menos democrática- a uma espécie de neopopulismo que, não por acaso, alcança os limites da enganação. E não poderia ser de outro modo, uma vez que está obrigada a representar uma farsa: fazer-se de anticapitalista quando, na verdade, o favorece; fazer-se de democrática, quando, de fato, não aceita a alternância no poder e abomina a liberdade de imprensa.

Como esse é o espírito do governo petista, todos os seus integrantes dançam ao som da mesma música, obedecendo à batuta do maestro. Exemplo disso foi a posse do novo ministro do Esporte, que substituiu Orlando Silva, demitido por suspeita de corrupção, como atesta o processo aberto contra ele pelo STF. Para surpresa de todos, esse ato se transformou numa exaltação ao ministro demitido, que foi elogiado por Dilma e aplaudido de pé pelos presentes. Uma comédia.

Um fato muito grave atinge o cerne vital desse sistema de poder: a descoberta de um câncer na laringe de Lula. O país inteiro se assustou, é claro. É verdade que hoje muitos tipos de câncer são curáveis; apesar disso, constatar que alguém está com um tumor maligno não é propriamente uma boa notícia.

É o que todo mundo pensa. Não obstante, parece que, no caso de Lula, é diferente. Da equipe médica à presidente Dilma e ao ministro Mantega, todos afirmam sorridentes que Lula está ótimo, alegre, mais bem-disposto do que nunca.

Até hoje, não tinha visto um diagnóstico de câncer ser tão bem recebido. Parece até que Lula acaba de ganhar o grande prêmio da loteria.

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

A escola total flex

Joaquim Luiz Nogueira

Se você consultar o mercado, a venda de flex nos últimos anos superou os tradicionais A vantagem é que ao aderir ao flex, o usuário tem mais possibilidades de se divertir, fazer amigos, namorar, curtir, exibir novidades, ingerir bebida alcoólica, falar mais ao celular, ouvir música; etc..

Tradicional

Resultado final 2011

Flex

Resultado final
2011

Aluno(a) que não produziu nada nas aulas

Retido

Aluno(a) que não produziu nada nas aulas.” É quieto nas aulas!”

Promovido

Aluno(a) faltoso nas aulas

Retido

Aluno faltoso nas aulas. “fez compensação de ausências!”

Promovido

Aluno(a) de Inclusão, sem laudo médico

Retido

Aluno(a) de Inclusão, sem laudo médico “Se mostra feliz com 10!”

Promovido

Aluno (a) não frequente, veio fazer Avaliação Externa.

Retido

Aluno (a) não frequente, veio fazer Avaliação Externa. ”Conseguiu fazer X nas questões!”

Promovido

Aluno (a) não abriu o caderno em sala de aula durante o semestre

Retido

Aluno (a) não abriu o caderno em sala de aula durante o semestre. “Progressão!”

Promovido

Aluno(a) evadido

Retido

Aluno(a) evadido. “A Direção visitou sua casa e convenceu-o a voltar em Dezembro!”

Promovido

Para o mercado o mais importante é a venda, não as consequências do produto para o meio ambiente ou a sociedade. Trata-se de aumentar ou diminuir alguns índices de interesse do capital. Caso apareçam no futuro consequências graves, cabe o registro da ocorrência e aguardarmos a providência dos órgãos competentes: Ibama, Conselho Tutelar, Lei Maria da Penha, Fundação Casa; etc.

sábado, 5 de novembro de 2011

Teoria do enxame e suas variantes no mundo humano

Joaquim Luiz Nogueira

De acordo com o BLOG http://aimotion.blogspot.com “A inteligência coletiva é uma propriedade de sistemas compostos por agentes não (ou pouco) inteligentes com capacidade individual limitada, capazes de apresentar comportamentos coletivos inteligentes. Tais comportamentos seguem as seguintes propriedades: Proximidade (...)Qualidade(...) Diversidade(...) Estabilidade(...) Adaptabilidade”

Esses conceitos também podem ser aplicados em locais como a escola ou a sociedade e, mesmo assim, será muito difícil identificar os rumos da inteligência coletiva das pessoas: na universidade parte querem polícia e outros gritam “fora polícia!” na escola normal, parte querem estudar e outros paquerar, ouvir músicas e assim por diante. Vejamos algumas possibilidades do mundo da educação com os conceitos citados acima:

  • Proximidade: Os alunos devem ser capazes de interagir entre eles, professores, funcionários, Direção, reitoria, policiais , grupos externos; etc.
  • Qualidade: Os alunos devem ser capazes de avaliar seus comportamentos e os dos outros que eles conhecem de forma individual e coletiva.
  • Diversidade: Permite aos alunos reagirem a situações inesperadas com comportamentos inéditos e imprevisíveis.
  • Estabilidade: Nem todas as variações ambientais da escola ou da sociedade afetam o comportamento de todos, alguns não são afetados.
  • Adaptabilidade: Capacidade de se adequar a variações ambientais elaboradas pela escola, universidade e sociedade.

Sendo o espaço escolar o lugar da diversidade, e porque não dizer, da inteligência coletiva, logo com capacidade individual humana ilimitada, podem esperar grandes transformações, inéditas e imprevisíveis, fruto da experiência individual e coletiva.
Se o objetivo das formigas, abelhas e pássaros, tem como prioridade diminuir o tempo gasto entre suas casas e o alimento, cujos esforços do bando, enxame ou formigueiro se mobilizam. Qual seria a prioridade num espaço escolar ou em uma Universidade? Poderemos ver uma ponte humana algum dia em nome do conhecimento?

Parece que a necessidade que comanda os enxames, os bandos de aves e o formigueiro, com certeza não é a mesma das multidões humanas, principalmente pelo respeito a certas hierarquias de valores entre os insetos: rainhas, operários, zangões etc. Nós humanos temos como uma das hierarquias o capital, isto é, o poder aquisitivo.
Na multidão de um grande espetáculo ou no engarrafamento do trânsito, alguns conseguem privilégios, destacando-se das massas, mas não sem apoio das mesmas. Tudo indica que há certa simbiose entre o sucesso de alguns e a vontade coletiva.

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Educação em Pandora

Joaquim Luiz Nogueira

Quem já teve a oportunidade de assistir o Filme Avatar de James Cameron, certamente se recorda que alguns avatares virtuais visitavam os nativos numa tentativa de aprender a língua deles e ao mesmo tempo, transmitir os interesses do povo do céu para os nativos.

Podemos observar que no filme havia a possibilidade dos corpos humanos permanecerem numa cápsula, enquanto seu avatar (forma virtual escolhida) surgia na floresta para cumprir sua missão junto aos nativos. Nesse aspecto, o corpo habitava o mundo Real e seu avatar penetrava numa região de valores desconhecidos e ainda não controlado pelos invasores.

A missão do corpo no mundo Real era manter a máquina que o alimentava ligada, pois a sua integralidade faria com que o máximo de informações dos nativos chegassem de volta ao sistema explorador. O órgão manipulador central preparava e o capacitava no sentido de que ele pudesse oferecer informações da cultura dos nativos, facilitando assim, a destruição dos mesmos.
A missão dos avatares eram interpretar papéis sociais e manter uma aparência semelhante aqueles nativos, que mais cedo ou mais tarde, seriam destruídos em nome da ganância e do lucro de poucos privilegiados estrangeiros.

Para os donos das avançadas tecnologias, os valores cultivados pelos nativos, atrapalhavam seus interesses, vejamos alguns:

- não dependiam da linguagem dos estrangeiros para sobreviverem;

- não se interessavam pelos valores além de sua cultura;

- cultivavam regras de conexões com o ambiente que o envolviam, extraindo e apropriando somente aquilo que lhes interessavam.

Os avatares tinham que aprender a linguagem dos nativos, ganhar a confiança dos mesmos e, ao mesmo tempo, conscientizar aquelas criaturas de que todos seriam capazes de aprender os novos valores vigentes, segundo a política econômica estruturada junto ao poder tecnológico do povo do céu.
Os avatares que trabalhavam para o povo do céu eram treinados para obedecerem as leis, isto é, tinham de cumprir suas missões, pois se fracassassem, seus corpos eram desligados das máquinas que os alimentavam.

Observação

Muitas vezes nos sentimos como avatares dentro das salas de aulas, falamos para as paredes quando tentamos ensinar História, Matemática, Língua Portuguesa e outras disciplinas, será que estamos em Pandora?

domingo, 23 de outubro de 2011

O nascimento de um novo Bairro no século XXI e as cidades autossustentáveis

Joaquim Luiz Nogueira



Nas margens da rodovia Marechal Rondon, um grande espigão recoberto por vegetação não viável economicamente, começa a ser cortada, cujo desenho, não deixa dúvida, trata-se do nascimento de um novo bairro destinado a moradias urbanas. Pela divisão das quadras, podemos observar que a qualidade de vida prevista para os futuros investidores das margens da rodovia contará com a poluição e o barulho dos motores 24 horas por dia.

Sob o signo do ruído e da moradia para os outros, a terra é cortada em fatias, expondo a intenção daqueles que se julgam donos do cenário presente e planejadores do futuro. Mas, no século XXI, as cidades não deveriam continuar a se expandir sem primeiro calcular a qualidade de vida dos futuros cidadãos?


Estas áreas próximas das rodovias e das cidades deveriam ser compradas pelo poder público e transformadas em modelo de cidades futuristas, isto é, antes de planejar a moradia para as pessoas, deveriam pensar no sustento das famílias. Então esses quarteirões seriam autossuficientes e capazes de unificar educação, empregos, moradias, natureza e qualidade de vida.
Nesse sentido, o primeiro passo seria recuperar a natureza com vegetação nativa em simbiose com as novas construções autossustentáveis de energias renováveis como o sol e o vento. Assim, as periferias das cidades não repetiriam os erros dos centros urbanos construídos em épocas que desconheciam os efeitos de uma urbanização sem planejamento.
Algumas dicas:


http://tarsilagiraoarquitetura.blogspot.com/2009/09/os-10-preceitos-da-cidade-auto.html

http://www.cerveira.com/pt/a-primeira-cidade-auto-sustentavel-do-mundo.php
http://itsgreendesign.blogspot.com/2008/12/cidade-auto-sustentavel-mvrdv.html


quarta-feira, 12 de outubro de 2011

UMA LEITURA DA FACHADA DA ESCOLA ESTADUAL DR. CARDOSO DE ALMEIDA


Este Artigo é uma homenagem do Professor Joaquim Luiz Nogueira aos alunos, ex- alunos, funcionários, ex-funcionários, professores, ex-professores desta escola centenária da cidade de Botucatu SP.


Joaquim Luiz Nogueira [1]



[1] Professor de História formado pela Faculdades Associadas Ipiranga (1995). Cursou Pedagogia na Universidade do Grande ABC (1999). É mestre em Comunicação e Semiótica pela Pontifícia Universidade de São Paulo (PUCSP), com a tese A construção do corpo feminino nas capas da revista “O Cruzeiro” (2008). É especialista em História e Historiografia do final do século XIX e início do século XX pela Universidade Bandeirante de São Paulo e em Gestão Educacional pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). É autor dos livros: Saiba como obter sucesso em contextos sociais diferentes (1ª ed. São Paulo: Editora Baraúna, 2009) e Saiba como as experiências favorecem o sucesso profissional (1ª ed. São Paulo: Editora Baraúna, 2010).


Figura 1. Fachada da Escola Estadual Dr. Cardoso de Almeida (EECA), em Botucatu/SP.
Ao passarmos pela calçada da Escola Estadual Dr. Cardoso de Almeida (EECA), figurativamente[1], somos atraídos pela beleza de sua fachada e buscamos ideais nas mesmas proporções. Estamos em frente a uma fachada arquitetônica que, por sua grandeza, direciona nosso olhar para o alto. Esse cenário arquitetônico nos conduz ao passado e, de acordo com Greimas (1981), “visa a revestir exaustivamente as figuras, de forma a produzir a ilusão referencial que as transforma em imagens do mundo”.

Nesse sentido, na figura 1, destacam-se: altura do prédio, janelas, colunas, texto escrito na fachada e elementos decorativos florais, que contrastam e sobrepõem-se[2] em linhas retas, curvas, retângulos e florais. Tendo em vista esses aspectos, vejamos o que diz Greimas (apud OLIVEIRA, 2004, p. 80):

Nessas condições, sendo cada cultura dotada de uma “visão de mundo” que lhe é própria, ela impõe por isso mesmo condições variáveis ao reconhecimento dos objetos e, consequentemente, à identificação das figuras visuais como algo que “representa” os objetos do mundo, contentando-se frequentemente com esquematismos vagos, mas exigindo, por vezes, reprodução minuciosa dos detalhes “verídicos”.


Sendo assim, antes de trabalharmos os objetos da fachada da EECA, observemos uma sugestão de remodelação maneirista[3] de Sebastiano Serlio[4] para os palácios góticos de Veneza, de 1619, comparando-a com as janelas da EECA, situadas logo abaixo do título do prédio “Escola Normal” (figuras 2 e 3):



Figura 3
As janelas de Veneza (figura 2) localizadas na parte posterior da construção possuem formas retangulares e as situadas abaixo são curvas na parte superior. E na figura 3, podemos observar que as janelas centrais do prédio da EECA têm formas retangulares e nas janelas laterais o formato de curva é o preferido. Mas, antes de continuarmos nossa análise do texto arquitetural, vejamos o que diz Floch[5] sobre análise de imagem e objeto de sentido:
Ao abordar numa análise um texto, uma imagem ou outro objeto de sentido [...] o primeiro trabalho do especialista em semiologia é o de considerar a totalidade desse objeto de sentido e proceder à sua segmentação em um certo número de unidades ditas de manifestação. Tais unidades apresentam a vantagem de serem controláveis. [...] o especialista assegura-se de não isolar arbitrariamente este ou aquele detalhe e de sempre considerar uma parte como parte de um todo. Visto que na constituição do plano de sua manifestação, o objeto de sentido se apresenta como uma hierarquia. (tradução nossa)[6]
Desse modo, o sentido leva-nos a olhar para título do edifício e não temos como ignorar as janelas retangulares, do tamanho de portas, que se abrem para o vazio. Essas janelas não têm sacada, o que nos leva a pressupor que a intenção do arquiteto era possibilitar a entrada de claridade e ao mesmo tempo mostrar aos cidadãos dessa época uma ação educativa urbana. Segundo Argan (1992, p. 269-270):
No vértice de tudo, portanto, está o urbanismo, porque cada ação educativa ensina a fazer a cidade e a viver civilizadamente como cidadão. Viver civilizadamente significa viver racionalmente, colocando e resolvendo cada questão em termos dialéticos. A racionalidade deve enquadrar as grandes e pequenas ações da vida: racionais devem ser a cidade em que se vive, a casa em que se mora, a mobília e os utensílios que se empregam, a roupa que se veste [...] um plano urbanístico comporta a distribuição e a coordenação de todas as funções sociais – habitação, trabalho, instrução, assistência, lazer; mas também a eliminação de tudo o que impede a circularidade e continuidade das funções.
Além da luz, acrescentemos algo que também se destaca na fachada da EECA: trata-se dos elementos ligados à natureza em forma de desenhos florais, característicos do Art Nouveau. E sobre esse estilo ornamental na arquitetura, vejamos o que fala Argan (2006, p. 189):
A arquitetura do Art Nouveau deriva em grande parte da ideologia de Morris, e assim se liga a toda a problemática da produção: móveis, alfaias, papéis de parede. Estabelece-se uma continuidade estilística entre o espaço interno e o externo, também favorecida pelas novas técnicas que, superando a relação estática tradicional, permitem que o vazio prevaleça sobre o cheio [...] cujo espaço arquitetônico é determinado a partir do interior, dos objetos e móveis.
E também no estilo Art Nouveau, estão, pendurados ao título do edifício, três pontos que interligam uma espécie de faixa decorativa em forma de flores e fitas, semelhante a papel, que o envolve e que tem origem entre as palavras “escola” e “normal” (figura 4).
Figura 4
Esse arranjo da figura 4 pode ser encontrado também em fachadas de edifícios como a do Memorial do Imigrante em São Paulo (figura 5), que parece abraçar a construção da obra a partir da inscrição “Conde do Parnahiba”, assim como nas fachadas de construções em países europeus como a Letônia (figura 6), que também receberam assimilações dos traços do Art Nouveau, isto é, laços decorativos mesclados com folhas e flores em toda a fachada.
No caso da EECA, na parte frontal do edifício e ao centro de uma quadratura do lado esquerdo e direito, em cada extremo do enunciado escrito na fachada, há um quadrado com um círculo em seu interior, que recebe pétalas para manifestar ao público a magia da natureza fazendo desabrochar flores entrelaçadas, cuja trama envolve os dizeres “escola normal”. Essas diferenças conservadas sobre a fachada podem ser esclarecidas por Morin (2005, p. 151):
Mas a manutenção das diferenças supõe igualmente a existência das forças de exclusão, de repulsão, de dissociação, sem as quais tudo se confundiria e nenhum sistema seria concebível. É preciso então que na organização sistêmica as forças de atração, as afinidades, as ligações, as comunicações, etc. predominem sobre as forças de repulsão, exclusão, dissociação, que elas inibem, contêm, controlam, enfim, virtualizam.
No final do século XIX e início do século XX no Brasil, as sociedades urbanas das grandes capitais brasileiras estavam em constantes movimentos de acomodações e reincorporações de outras culturas. E de acordo com Wataghin (2003, p. 209): “Todas as tradições podem ser desconcertadas, revolvidas, misturadas e finalmente devoradas e reincorporadas, naturalmente em pedaços [...]”.
Figura 5
Figura 6
No centro do texto “escola normal”, não consta o quadrado, apenas duas metades de uma flor, separadas por um vazio na parte superior e unidas no lado de baixo por um caule que tem como raízes flores em desenvolvimento e desabrochadas em ambas as extremidades das palavras escritas (figura 7). Elas manifestam certo percurso temático[7] que dá ideia de espaço alimentado por elementos que já romperam algumas fronteiras e de outros que ainda necessitam de luz para vencer novas etapas.
Figura 7
Nesse sentido, pode-se falar que: “A função figurativa constitui uma categoria do pensamento imediatamente ligada à ação” (FRANCASTEL, 1993, p. 91). Trata-se de uma fachada figurativa significando que aqueles que aprenderam ensinam outros. De acordo com Floch:
É a partir da figuratividade que o enunciador pode se instalar no discurso, recuperando-se, assim, um conceito fundamental em semiótica, que é o de isotopia [...] A isotopia é um conceito fundamental, no sentido de fazer compreender como o prolongamento de uma mesma base conceitual assegura homogeneidade de uma narrativa apesar da diversidade figurativa. (tradução nossa)[8]
Desse modo, o texto escrito se mescla com os arranjos florais para figurar que “O homem fixa o seu destino pela arquitetura e pelas obras figurativas que ele elabora do mesmo modo que pela palavra. Os signos figurativos encarnam uma certa ordem da civilização [...]” (FRANCASTEL, 1993, p. 91).
A ordem manifestada é a de que o espaço vazio superior da flor que não se fecha entre as palavras “escola” e “normal” depende dos elementos sustentadores que variam entre estágios desabrochados e aqueles que necessitam crescer para atingir estágios superiores. Assim: “A tarefa do arquiteto é projetar o ambiente, e este resulta sempre de vários elementos coordenados” (ARGAN, 2006, p. 187).
Assim, a fachada da EECA nos convida a aprender com traços de um passado clássico: “Necessidade de retomar a questão em suas raízes, de redefinir a relação primeira e essencial do homem com o mundo” (ARGAN, 2006, p. 197). Comparemos, na figura 8, os adereços junto às colunas do edifício da EECA com as colunas clássicas do mundo grego (GLANCEY, 2001, p. 78):
Figura 8
Na coluna da escola, observamos uma mescla de elementos com traços de capitéis coríntios da ordem clássica que se manifestam como folhas que brotam do centro em direção às extremidades (figura 8). E essa vegetação toca objetos circulares numa espécie de cornija[9] e terminam com flores desabrochadas.
Para continuarmos a descrever essa fachada, temos que compreender a época de sua construção, isto é, o início do século XX. Assim, pode-se perceber que ela é carregada de traços que demonstram manifestações do desejo de passar uma ideia do desenvolvimento urbano e do dinamismo da república brasileira daquele momento. Segundo Sevcenko (1998, p. 30):
A intensidade dos contatos e das trocas internacionais promovida pela instauração do regime republicano naturalmente acelerou esse curso de transformações históricas. Na dinâmica da nova ordem, tanto ampliou-se a construção de uma consistente esfera pública, reforçada pela expansão crescente da imprensa e das oportunidades de convívio cultural, quanto se agudizaram os sentidos e valores associados ao desfrute de experiências de privacidade. [...] Esse, contudo, é o panorama ideal, na medida em que as condições históricas do país tornam tanto a participação no contexto do espaço público quanto o gozo da privacidade privilégio de poucos.
Assim, pode-se ver que a vegetação na coluna se sustenta por uma espécie de raiz logo acima da arquitrave[10], isto é, um tronco que aos poucos se desenvolve e irradia folhas de tamanhos que variam entre longas na parte inferior e curtas no topo, dando ideia de algo vivo e em crescimento. Traços semelhantes a essa formação do arranjo da coluna também podem ser encontrados na ferragem do interior de algumas janelas (figura 9):
Figura 9
Nessa janela (figura 9), há no centro um quadrado que manifesta o aprisionamento das raízes da árvore que sustentam os galhos e esses parecem empurrar junto ao seu desenvolvimento a estrutura do prédio da escola. Também se pode verificar que a figura central se destaca dentre outras formações situadas ao seu redor, mas que estas também mantêm pontos que ajudam na sustentação e organização dos galhos maiores. Para melhor entendimento dessa interpretação semiótica, vejamos as palavras de Greimas (apud OLIVEIRA, 2004, p. 81):
A reunião de traços heterogêneos que constitui a figura, que serve de formante por ocasião de tal leitura, levanta o problema de densidade dos traços e de sua organização. Poder-se-ia invocar aqui o conceito de pertinência para lançar um pouco de luz: poder-se-ia dizer que uma figura possui uma densidade “normal” ou, por outras palavras, que um formante figurativo é pertinente se o número de traços que reúne é mínimo, isto é, necessário e suficiente para permitir sua interpretação como representante de um objeto do mundo natural.
E para continuarmos nossa viagem pelo Art Nouveau, na figura 10 verifica-se, nos interiores de algumas janelas do prédio da EECA, uma estrutura de ferro em forma de arco que repousa sobre formas retangulares semelhante ao desenho que encontramos no prédio da Casa Franklin[11].
Figura 10
O estilo Art Nouveau, muito utilizado em decorações de fachadas no início do século XX no Brasil, tem sua origem na França: “Samuel Bing, americano, abriu sua loja Art Nouveau em Paris, em 1895, ela deu nome a um estilo de curta duração, mas muito expressivo, mais adequado talvez a decoração de interiores e a ilustrações do que à arquitetura” (GLANCEY, 2001, p. 166).
Desse modo, os traços do Art Nouveau[12] podem ser vistos também nos arranjos florais das paredes da EECA (figura 11), mesclados com detalhes góticos[13] pontiagudos dos tijolos, bem como em uma igreja, no desenho da ferragem da janela, que fecha a flor e cuja base está sobre um formato característico de coluna clássica jônica (figura 8), também usada na coluna representada à direita.
Figura 11
A sobreposição de estilos na fachada também pode ser observada na figura 12, cujo desenho dos ferros das janelas possui a forma invertida das colunas jônicas (figura 11). Na parede, há frisos horizontais e cornijas que, com as colunas que avançam para além da cobertura do prédio, carregam formas que se enquadram na arquitetura neoclássica[14].

Figura 12
Nesse sentido, a fachada da EECA pode ser considerada eclética, pois mescla vários estilos em sua construção arquitetônica e artística, entre eles: Art Nouveau, gótico, maneirista, clássico e neoclássico.
Referências
ARGAN, Giulio Carlo. Arte moderna. São Paulo: Companhia das Letras, 1992.
FLOCH, Jean Marie. Formes sémiotique: identités visuelles. Paris: PUF, 1995.
______. Petites mythologies de l’oeil et de l’esprit : pour une sémiotique plastique. Paris-Amsterdan: Hadès-Benjamins, 1985.
FRANCASTEL, Pierre. A realidade figurativa. São Paulo: Perspectiva, 1993.
GLANCEY, Jonathan. História da arquitetura. São Paulo: Edições Loyola, 2001.
GREIMAS, Algirdas Julien. Dicionário de semiótica. São Paulo: Cultrix, 1981.
______. Semiótica figurativa e semiótica plástica. In: OLIVEIRA, Ana Claudia de (Org.). Semiótica plástica. São Paulo: Hacker, 2004.
MORIN, Edgar. Cultura de massas no século XX: neurose. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2005.
SALIBA, Elias Thomé. A dimensão cômica da vida privada na República. In: SEVCENKO, Nicolau (Org.). História da vida privada. v.3. República: da Belle Époque à Era do Rádio. São Paulo: Companhia das Letras, 1998, p. 289-365.
SEVCENKO Nicolau (Org.). História da vida Privada no Brasil. República: da Belle Époque à Era do Rádio. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.
PANOFSKY, Erwin. Significado nas artes visuais. São Paulo: Perspectiva, 2004.
WATAGHIN, Lucia (Org.). Atas do Seminário Internacional Brasil/Itália: Vanguardas. São Paulo: Ateliê Editorial, 2003.
Pesquisa na internet:
Armando Moraes Delmanto: http://www.armandomoraesdelmanto.com.br/?area
= Artigos &id=23&pagina=3: Acesso em 06/05/2011.
Flick: . Acesso em: 10 abr. 2011.

Latvia/Riga: . Acesso em: 10 abr. 2011.

Picasa:. Acesso em: 14 abr. 2011.



[1] Sobre “discursos figurativos”, no Dicionário de Semiótica (p. 185) consta: “[...] fica entendido, entretanto, que tal distinção é, de certa maneira, ideal”.
[2] De acordo com Saliba (apud SEVCENKO, 1998, p. 326): O desenraizamento e o estranhamento em face da sobreposição de tempos e destinos individuais, que embaralhava e superpunha, em indistinção notável, o público e o privado, ganhou novos matizes e, em certo sentido, aprofundou-se com a urbanização intensa e tumultuária das cidades brasileiras, a partir do início do século”.
[3] Desenho de fachada por Domenico Beccafumi e o problema do maneirismo na arquitetura, uma discussão do século XVI (PANOFSKY, 2004, p. 293).
[4] Sebastiano Serlio sugere em xilogravura a remodelação dos palácios góticos (PANOFSKY, 2004, p. 296).
[5] Jean Marie Floch, em suas obras, faz a leitura de imagens e de obras de arte.
[6] “Lorsqu’il aborde l’analyse d’um texte, d’une image ou de tout autre objet de sens [...] le premier travail du sémioticien est de considérer la totalité de cet objet de sens et de procéder à sa segmentation em um certain nombre d’unités dites de manifestation. De talles unités présentent l’avantage d’être maniables. [...] le sémioticeien s’assure de ne pas isoler arbitrairement tel ou tel détail et de toujours considérer une partie comme partie d’um tout. Car, dês constitution du plan de sa manifestation. L’objet de sens se présente comme une hiérarchie.” (FLOCH, 1995, p. 14).
[7] De acordo com a definição dada por Greimas (1981), entende-se por papel temático a representação, sob forma actancial, de um tema ou de um percurso temático, como: pescar (tema), resumido em pescador (percurso temático).
[8] A partir de la figurativité que l’énonciateur peut instaler dans son discours, on retrouve um concept fondamental em sémiotique, celui d’isotopie [...] L’isotopie est um concept fondamental, en ce sens qu’il fait comprendre comment le prolongament d’une même base conceptuelle assure l’ homogénéité d’un récit malgré la diversité figurative (FLOCH, 1985, p. 206).
[9] De acordo com Glancey (2001, p. 231), cornija é um termo da arquitetura clássica para denominar a seção que se projeta de um entablamento e também o molde horizontal que se projeta ao longo do ápice de um edifício ou parede.
[10] Segundo Glancey (2001, p. 230), trata-se da divisão inferior do entablamento clássico e também da estrutura moldada ao redor de uma porta ou janela.
[11] Construção com fachada com traços Art Nouveau, situada na avenida Passos, no centro do Rio de Janeiro. Imagem disponível em: . Acesso em: 14 abr. 2011.
[12] “[...] buscar o belo na plenitude da luz e no brilho da cor [...]. É sempre uma contemplação da natureza, uma superação da realidade” (ARGAN, 2006, p. 130).
[13] De acordo com Glancey (2001, p. 53), uma tentativa de elevar nossa vida cotidiana aos céus, de tocar a face de Deus, nas mais altas abóbadas, torres e agulhas que a tecnologia permitiu.
[14] Segundo Glancey (2001, p. 119): “O Neoclassicismo conseguiu servir a vários objetivos, uma fachada nobre para casas de campo, prefeituras, estações ferroviárias [...]”.