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quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Uma leitura de porta do século XIX no Brasil

Joaquim Luiz Nogueira
Foi numa visita a fazenda Ipanema em Iperó  que me deparei com uma porta interessante, nela algumas frases que fazem sentido para compreendermos o Brasil. Logo no topo, abaixo do arco preenchido por desenhos na ferragem em formas de curvas, temos nosso olhar desviado para o vácuo da escuridão solitária do prédio, isto é, o vazio sem resposta. 

Logo abaixo podemos ler “Restauração da Fábrica de Ferro de São João de Ypanema Regência do Império” Sob o enquadramento floral, semelhante a Art Nouveau que mais tarde no final do século iria invadir os palacetes deste pais, temos os nomes das excelências, escritos para permanecer na História. 



As datas estão confusas, pois o ano desta restauração que consta na porta é 1834, enquanto, o chamado golpe da maioridade, que levou o menino imperador ao poder foi 1840. Na imagem abaixo, temos o típico desenho da Art Nouveau, com um rosto (supostamente do menino D. Pedro II) envolvido nos arranjos florais.

 

O rosto posicionado como figura central da porta tem logo abaixo a confirmação de sua importância na frase “ D. Pedro II Imperador Constitucional e Perpétuo Defençor do Brazil”. Portanto, a porta registra o interesse da fábrica de ferro na defesa do Menino Imperador como o perpétuo defensor do Brasil, crença de cunho monarquico e herança do Absolutismo, quando alguns reis na Europa ganharam status próximo a deuses junto ao povo.


  A imagem abaixo mostra um ritual de vassalagem, muito comum na Europa Feudal, quando senhores e cavaleiros faziam algum acordo ou negócio, sendo este selado por um aperto de mãos e tapinhas nas costas. No caso acima da Fábrica de Ferro, o símbolo das mãos significava que havia um acordo entre “nobres” brasileiros.  



 E a seguir, a homenagem de aclamação da maioridade do Imperador de 23 de julho de 1840 e “coroação do mesmo Augusto do Senhor em 18 de julho de 1841”. O título de Augusto do Senhor é uma mescla de poderes dos Imperadores Romanos com a crença de reis coroados com a benção de Deus pelos papas medievais.
 

E para finalizar a porta,e o acordo firmado entre cavaleiros, temos o registro de nomes de homens da guerra e o representante da Província. O ministro e secretário de “Estado dos Negócios da Guerra” que no final do quadro cita também o “Director Bloem” referindo se provavelmente ao Major Johann Bloem, diretor-geral das Usinas Siderúrgicas do Império do Brasil.