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sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Botucatu e as guirlandas na sua arquitetura histórica



    Alguns símbolos aparecem em muitas fachadas das casas históricas da cidade de Botucatu, entre eles, a guirlanda é vista facilmente ao passarmos pelas calçadas. Trata-se de um arranjo floral, muito utilizado junto à arquitetura no final do século XIX e início do século XX e incorporava juntamente com outros elementos os traços da Art Nouveau, nascida na França e espalhada em várias fachadas de arquiteturas pelo mundo nesse período 
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    O uso das guirlandas, muito comum também em cemitérios, carrega além de sua beleza enquanto arte, algumas simbologias que remetem o observador para devaneios históricos e psicológicos, que ao defrontar com essas fachadas, questionam seus significados e as possíveis crenças envolvidas.
   Neste aspecto podemos falar no poder da crença como crédito de confiança, algo que prolonga o instante imediato, espécie de elo que liga o homem a dimensões que se encontram distantes de seu corpo, não compreendida por ele, mas com a capacidade para influenciá-lo a partir de palavras e imagens:
“Assim, uma palavra ou uma imagem é simbólica quando  implica alguma coisa além do seu significado manifesto e imediato(...) o homem é incapaz de descrever um ser “divino” (... ) estamos   dando lhe apenas  um nome, que poderá estar baseado em uma crença, mas nunca em uma evidência concreta (...) utilizamos termos simbólicos como representação de conceitos  que não podemos definir ou compreender integralmente. ”(JUNG 2008 pg. 19)   



 

     Os símbolos, assim como as imagens e palavras possuem a capacidade de trazer aquilo que está no passado, ou presente distante, mas admirado, inesquecível e até futurista ao encontro do aqui e agora. São imagens semelhantes aquelas saídas de sonhos, entrelaçadas e sobrepostas que encantam de forma mágica.
    Desse modo, supomos que o homem, por não ter a compreensão suficiente, isto é, um ser incompleto, necessita de sonhos e símbolos para preencher lacunas em sua existência angustiante. Essas pontes oníricas expandem desejos de realizações cujo contexto real não lhe permite a realização, mas, de acordo com o sentido que atribuímos a uma dada situação, podemos obter ajuda extra para a sua resolução, já que também produzimos símbolos:

(...) o homem também produz símbolos, inconsciente e espontaneamente, na forma de sonhos (...) O homem, como podemos  perceber ao refletirmos um instante, nunca percebe plenamente uma coisa ou entende por completo. (...) tudo isso depende do número e da capacidade dos seus sentidos. ”(JUNG 2008 p. 20).
  


    As guirlandas nestas fachadas compõem contextos intrigantes, pois coroam outros símbolos conhecidos por variações de sentido ao longo da história humana: circulo solar, roda, deus sol e outros. Ao serem incorporados nas fachadas das casas, prédios e móveis na segunda metade do século XIX na Europa pela Art Nouveau, acrescentou beleza ao sonho de riqueza e conforto que mais tarde conhecemos como a “Belle Époque”.
      A ideia desse momento, além de outras interpretações, também pode pressupor que em alguns instantes a realidade torna-se tão árdua, que então reagimos de acordo com as sensações visuais ou auditivas e ao incorporarmos a mente, não encontramos respostas adequadas, já que desconhecemos vários aspectos de nossa própria natureza, vejamos isso segundo Jung:
      Além disso, há aspectos inconscientes na nossa percepção da realidade, o primeiro deles é o fato de que, mesmo quando nossos sentidos reagem a fenômenos reais e a sensações visuais e auditivas, tudo isso de certo modo, é transposto da esfera da realidade para a da mente. “Dentro da mente esses fenômenos tornam-se acontecimentos psíquicos cuja natureza radical nos é desconhecida (pois a mente não pode conhecer sua própria substância)  (JUNG 2008 p. 21).
   

      E por não conhecermos integralmente a própria natureza que nos deu forma, temos de criar contextos satisfatórios para satisfazer o relampejo produzido na mente, cuja linguagem se expressa por imagens sobrepostas, de forma a desconsiderar certas dificuldades situadas junto ao corpo e a realidade concreta, assim temos o conflito, que pode manifestar como uma segunda personalidade ou na sobreposição de elementos:

“Geralmente, aspecto inconsciente de um acontecimento nos é revelado por meio de sonhos, onde se manifesta não como um pensamento racional, mas como uma imagem simbólica. (...) Fundamentados nessas observações é que os psicólogos admitem a existência de uma psique inconsciente (...) de duas personalidades dentro do mesmo indivíduo. ”(JUNG 2008 p. 22)
 Devaneios, sonhos, arte, progresso e o moderno deram o tom nas cidades brasileiras no final do século XIX e início do século XX, entre as mais interessantes estão as fachadas de arquiteturas históricas do Belém do Pará, Rio de Janeiro, São Paulo e Rio Grande do Sul.   


Fonte: JUNG,Carl G. O homem e seus símbolos – Concepção e organização  Carl G. Jung . Trad. Maria Lúcia Pinho 2ªed. Especial- Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2008.


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