Livro: O corpo
guarda as marcas Bessel VanDER Kolk; Trad. Donaldson M.Garschagem. Rio de
Janeiro. Sextante,2020.
Neste livro, o pesquisador
Bessel Van DER Kolk, faz uma pesquisa com soldados americanos que retornaram da
guerra do Vietnã. Os traumas destes soldados passaram a incorporar em suas
vidas, certas repostas automáticas, que somaram as suas vidas familiares após a
guerra. Tais sintomas provocaram distúrbios mentais e violência diante de
qualquer contexto familiar ou da vida em sociedade, cujas lembranças traziam à
tona contextos vividos.
Portanto, em um paralelo,
podemos afirmar que traumas escolares vividos por professores e demais
funcionários da educação pública podem ter impactos profundos na saúde mental e
no desempenho profissional, além de afetarem o ambiente escolar como um todo.
Esses traumas podem ser gerados por diversas situações ao longo da carreira,
criando marcas emocionais difíceis de superar.
Neste artigo, faço um paralelo
com situações e contextos vividos no espaço escolar brasileiro nos últimos
trinta anos, cujas mudanças nas legislações que regem as famílias, os menores
de idade e a educação escolar pública, as quais exigiram dos gestores, professores
e funcionários um leque de funções que ultrapassaram o limite do suportável,
tendo como resultado fatos e ocorrências traumatizantes para todos os
envolvidos.
São exemplos de traumas
escolares, a violência física e verbal por parte de alunos, pais ou
responsáveis. Insultos, ameaças e desrespeito constantes. O assédio moral no ambiente escolar pode
ocorrer tanto entre colegas quanto entre gestores e professores ou
funcionários. Situações de humilhação, críticas exageradas ou cobranças
excessivas e sem apoio adequado podem gerar um trauma significativo. Além disso,
a pressão dos órgãos superiores, como secretarias de educação, para cumprimento
de metas pode gerar uma carga emocional intensa.
A rotina de trabalho
exaustiva e a sobrecarga de tarefas, combinadas com a falta de recursos,
infraestrutura concentrada e turmas superlotadas, reduzidas para o burnout. Conflitos
com alunos e falta de disciplina, desvalorização Profissional e cobrança sobre
a responsabilidade com a evasão escolar. Todas estas situações levam para
problemas como saúde mental, baixa qualidade de ensino, afastamentos e abandono
da profissão, sem falar ainda nos relacionamentos conflituosos que antecedem
estes acontecimentos.
Entre os sintomas mais
comuns que podem ser manifestados por traumas vividos por uma pessoa estão o
sentimento de angústia. Este, provoca sensações intoleráveis, que pode causar
desde queimação na boca do estomago até aperto no peito, tais sintomas resultam
em medo e sensações de desamparo, em algumas situações, podem levar para
atitudes antissociais, ansiedade, irritação e nervosismo.
As narrativas das pessoas
traumatizadas possuem perspectivas que dependem do nível de informações que
foram incorporadas as raízes da linguagem. É desta origem que se manifestam a
criação de histórias coerentes ou incoerentes, cuja mente, rastreia o passado e
faz as devidas conexões com experiências vividas.
De outro lado, o contato com
a situação presente, ativa a auto percepção com base em situações concretas ou
físicas. Se neste momento, sentir-se em segurança, há uma comunicação desta
experiência com a realidade. Pois, o emocional pode fazer a leitura interna da
pessoa e assim, construir uma narrativa equilibrada. No entanto, caso seja de
um sentimento de insegurança ou de doenças físicas e mentais, logo, a narrativa
será comprometida, sendo incoerente ou perturbada.
Os traumas criam e
intensificam raivas, apatias, insônias e pesadelos que provocam mudanças nas
pessoas, já que os traumas passam agir como um corpo estranho, um agente que
assume certas funções junto as decisões e ações. Podem atuar no corpo como uma
espécie de infecção ao interferir em interpretações e discursos, desse modo, resultará
em duas opções distintas, isto é, o sentimento de ser outra pessoa ou a sensação
de inutilidade, como se fosse “ninguém”.
Entre as possíveis
estratégias de apoio e de intervenções, podemos citar: o apoio psicológico, que
raramente chega até o chão da escola, um ambiente de trabalho saudável, muito
difícil de encontrar no espaço da escola, uma formação continuada com qualidade,
de preferência em ambiente de universidade e com tempo adequado, não no ambiente
do cotidiano da escola. Medidas de segurança e de disciplina propicia as
condições para o ensino e aprendizagem, juntamente com a valorização daqueles
que trabalham na função de ensinar e a redução da carga de trabalho, também
pode fazer a diferença necessária.