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quinta-feira, 10 de outubro de 2024

Traumas Escolares: uma semelhança com os traumas da guerra

 


                                                                                                                 Joaquim Luiz Nogueira

Livro: O corpo guarda as marcas Bessel VanDER Kolk; Trad. Donaldson M.Garschagem. Rio de Janeiro. Sextante,2020.

 

Neste livro, o pesquisador Bessel Van DER Kolk, faz uma pesquisa com soldados americanos que retornaram da guerra do Vietnã. Os traumas destes soldados passaram a incorporar em suas vidas, certas repostas automáticas, que somaram as suas vidas familiares após a guerra. Tais sintomas provocaram distúrbios mentais e violência diante de qualquer contexto familiar ou da vida em sociedade, cujas lembranças traziam à tona contextos vividos.  

Portanto, em um paralelo, podemos afirmar que traumas escolares vividos por professores e demais funcionários da educação pública podem ter impactos profundos na saúde mental e no desempenho profissional, além de afetarem o ambiente escolar como um todo. Esses traumas podem ser gerados por diversas situações ao longo da carreira, criando marcas emocionais difíceis de superar.

Neste artigo, faço um paralelo com situações e contextos vividos no espaço escolar brasileiro nos últimos trinta anos, cujas mudanças nas legislações que regem as famílias, os menores de idade e a educação escolar pública, as quais exigiram dos gestores, professores e funcionários um leque de funções que ultrapassaram o limite do suportável, tendo como resultado fatos e ocorrências traumatizantes para todos os envolvidos.

São exemplos de traumas escolares, a violência física e verbal por parte de alunos, pais ou responsáveis. Insultos, ameaças e desrespeito constantes. O assédio moral no ambiente escolar pode ocorrer tanto entre colegas quanto entre gestores e professores ou funcionários. Situações de humilhação, críticas exageradas ou cobranças excessivas e sem apoio adequado podem gerar um trauma significativo. Além disso, a pressão dos órgãos superiores, como secretarias de educação, para cumprimento de metas pode gerar uma carga emocional intensa.

A rotina de trabalho exaustiva e a sobrecarga de tarefas, combinadas com a falta de recursos, infraestrutura concentrada e turmas superlotadas, reduzidas para o burnout. Conflitos com alunos e falta de disciplina, desvalorização Profissional e cobrança sobre a responsabilidade com a evasão escolar. Todas estas situações levam para problemas como saúde mental, baixa qualidade de ensino, afastamentos e abandono da profissão, sem falar ainda nos relacionamentos conflituosos que antecedem estes acontecimentos.

Entre os sintomas mais comuns que podem ser manifestados por traumas vividos por uma pessoa estão o sentimento de angústia. Este, provoca sensações intoleráveis, que pode causar desde queimação na boca do estomago até aperto no peito, tais sintomas resultam em medo e sensações de desamparo, em algumas situações, podem levar para atitudes antissociais, ansiedade, irritação e nervosismo.

As narrativas das pessoas traumatizadas possuem perspectivas que dependem do nível de informações que foram incorporadas as raízes da linguagem. É desta origem que se manifestam a criação de histórias coerentes ou incoerentes, cuja mente, rastreia o passado e faz as devidas conexões com experiências vividas.

De outro lado, o contato com a situação presente, ativa a auto percepção com base em situações concretas ou físicas. Se neste momento, sentir-se em segurança, há uma comunicação desta experiência com a realidade. Pois, o emocional pode fazer a leitura interna da pessoa e assim, construir uma narrativa equilibrada. No entanto, caso seja de um sentimento de insegurança ou de doenças físicas e mentais, logo, a narrativa será comprometida, sendo incoerente ou perturbada.

Os traumas criam e intensificam raivas, apatias, insônias e pesadelos que provocam mudanças nas pessoas, já que os traumas passam agir como um corpo estranho, um agente que assume certas funções junto as decisões e ações. Podem atuar no corpo como uma espécie de infecção ao interferir em interpretações e discursos, desse modo, resultará em duas opções distintas, isto é, o sentimento de ser outra pessoa ou a sensação de inutilidade, como se fosse “ninguém”.

Entre as possíveis estratégias de apoio e de intervenções, podemos citar: o apoio psicológico, que raramente chega até o chão da escola, um ambiente de trabalho saudável, muito difícil de encontrar no espaço da escola, uma formação continuada com qualidade, de preferência em ambiente de universidade e com tempo adequado, não no ambiente do cotidiano da escola. Medidas de segurança e de disciplina propicia as condições para o ensino e aprendizagem, juntamente com a valorização daqueles que trabalham na função de ensinar e a redução da carga de trabalho, também pode fazer a diferença necessária.