Joaquim Luiz Nogueira
O
pensador Kant, escreveu em seu livro “Critica da razão pura” que a educação necessitava de três coisas:
exercício de abstração, depois da impressão e por fim da experiência. Segundo
Kant, “todo o nosso conhecimento começa com a experiência”.
No
entanto, atualmente, algumas políticas educacionais resolveram que a educação escolar e suas práticas poderiam ser melhorada sem ouvir a experiência
daqueles que trabalham nela e mobilizaram um exercito de pessoas, que por
estarem distante da educação, vomitam discursos de pureza, que de acordo com
Kant, seria como alguém que “solapou os fundamentos de sua casa: ele podia
saber a priori que a casa desmoronar-se
ia, quer dizer, não precisava esperar pela experiência de seu desmoronamento
efetivo”.
Ainda segundo
Kant. “Cada mudança tem sua causa, pois mudança é um conceito que só pode ser
tirado da experiência” E para compreender um pouco mais sobre os defensores da
pureza que se encontram desde as instituições financeiras internacionais até o
congresso nacional e nas assembleias estaduais, vamos ver as ideias de Slavoj
Zizek sobre Cognitivismo com Freud e
alguns aspectos em que se fundamentam a educação cognitiva a partir da
novidade.
Para
Zizek, “O novo emerge determinado pela ligação de uma causa linear não completada,
e esta, possibilita novas qualidades ou efeitos que transcendem o fato”. Aqui,
paramos para uma questão: O ensino escolar para quem tem a vontade de aprender?
É causa linear não completada atualmente? E o ensino escolar para todos, que
inclui aqueles, que por diversas razões foram incluídos? Estes possibilitam
novas qualidades ou efeitos que transcendem o espaço da escola?.
De
acordo com Zizek as “relações externas aos objetos apresentados, são
emergidas por um conjunto de elementos formados pelos indivíduos que observam”
Portanto, hoje com a Pedagogia da observação, a escola se transformou em
reality onde todos são atores em meio de selfs e memes[1], produzindo vários
comportamentos desregrados, isto é, as relações extraescolares determinam focos
e metas em seu interior.
Desse
modo, afirma Zizek: “É o elemento excessivo que define o percurso com sua visão
de multitude, e estabelece o lugar das relações” A complexidade das relações na escola faz com
que todos os envolvidos tenham suas tarefas estendidas para além de suas
funções e de forma tão hibrida, que perdem a noção sobre o que devem fazer a
cada instante.
Zizek
chama isso de “uma espécie de elemento
zero ou pureza estrutural” Um exemplo na escola seria quando o professor
percebe que está falando com as paredes ou está invisível para seus alunos.
Para a sociedade Moderna e capitalista, este elemento zero possui segundo Zizek: “a função mediadora entre a
experiência orgânica da velha sociedade de relações patriarcais e a nova
relação moderna capitalista”.
Sendo esta
nova relação moderna, aquela que deixa os educadores isolados em meio de tantos
outros interesses de seus alunos, definido por Zizek como “O grande começo, o
mediador ou catalizador, rejuvenescente do temperamento anímico entre os dois
pontos de vistas (passado e moderno)”. Agora, perguntamos aos puros, para onde
caminha a educação?
Se a
escola se transformou no espaço das relações descomunais e se o excesso destas
relações para Deleuze “é o lugar da liberdade e da reflexão, e que se sobrepõe à
visão de causa linear, o caminho subjetivo para relatos, e as condições
necessárias para assumir ou rejeitar o que está sendo apresentado”. Então, como
diria Shrec diante da descoberta que sua princesa Fiona também era como ele:
isso explica muito!
Se a
escola tornou-se o espaço da liberdade e isto pode ser mais bem esclarecido na
frase de Kant, que diz “Eu sou determinado por causas, mas posso escolher as
causas que vão me determinar?” Parece
que a maioria dos indivíduos não tem muitas dúvidas e parece que seguem a frase
do filósofo Demócrito, que afirmava “O que sei me basta”.
Outra
preocupação levantada por Zizek, é que “somos passiveis de afetação dos
elementos patológicos e da motivação, mas, num caminho reflexivo, temos um
poder mínimo de aceitar ou rejeitar em ser afetado ou não”. Penso que os
fatores patológicos estão vencendo a motivação no campo educacional. Mas, vamos
continuar falando sobre liberdade de escolha.
Neste
aspecto, de acordo com Zizek, “o sujeito
escolhe a causa que lhe determinará ou no mínimo, escolhe a determinação
linear. Pois liberdade é inerente e relativa, não é um ato livre ou lugar
nenhum´. Desse modo, a chamada liberdade é apenas mais uma abertura criada pela
modernidade com fundamentação no excesso.
Para
Zizek, a liberdade, “inicia uma nova causa (link), mas é um ato relativo,
endossando uma sequencia ou link de necessidade que lhe determinará”. Quando o
currículo nos diz: trabalhe o tema da aula com a necessidade do aluno. Então,
temos a sensação de que entramos na toca do coelho branco, semelhante à atitude
de Alice no País das Maravilhas.
Segundo
Spinoza, “liberdade não é simplesmente reconhecer/conhecer necessidade, mas
reconhecer/presumir as necessidades”. Sendo assim, presumimos que as
necessidades de nossos alunos vão muito além daquilo que seria a função da escola.
Qual é mesmo a necessidade da escola?
Nas palavras de Spinoza, “a necessidade se
constitui e se realiza através do reconhecer e do presumir” No entanto,
reconhecemos o excesso de relações desregradas no espaço escolar, que de acordo
com Zizek significa que “Este excesso de resultado sobre as causas, também
significa que o efeito é relativo a
causa que este causa – este temporal
volta a estrutura mínima da vida”.
Concluindo,
com o efeito do elemento zero mediando à educação, estamos caminhando em circulo ou no ditado
popular, como o cão que fica girando para morder o próprio rabo. Talvez, a
resposta estaria no pensamento de Kafka “cada
escritor gera seus precursores. Seus trabalhos modificam suas concepções de
passado, como também, modifica o futuro”.
Fonte:
KANT. Immanuel.
Crítica da Razão Pura. Coleção “Os
Pensadores” Nova Cultural. São Paulo,
1999.
ZIZEK, Slavoj. Organs Without Bodies On Deleuze and
Consequences . Nova York, Routledge, 2004.
[1]
Um meme, termo criado em 1976 por Richard Dawkins no
seu bestseller O Gene Egoísta, é para a memória o
análogo dogene na genética, a sua unidade mínima. É considerado como uma
unidade de informação que
se multiplica de cérebro em
cérebro ou entre locais onde a informação é armazenada (como livros).
No que diz respeito à sua funcionalidade, o meme é considerado uma unidade de evolução cultural que pode de alguma forma
autopropagar-se. Os memes podem
ser ideias ou partes de ideias, línguas,
sons, desenhos, capacidades, valores estéticos e morais, ou qualquer outra
coisa que possa ser aprendida facilmente e transmitida como unidade autônoma. O
estudo dos modelos evolutivos da transferência de informação é conhecido como memética.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Meme
Acesso em 31/102014