http://www.autoresfree.com.br

quinta-feira, 28 de dezembro de 2023

A Pedagogia para obter resultado

 



Joaquim Luiz Nogueira

Fonte: História das ideias pedagógicas no Brasil

Demerval Saviani 

A competência é emergida nos anos 60 como fruto do behaviorismo, identificada nesta fase inicial como objetivo que o aluno deveria atingir para realizar as operações, isto é, adquirir competências pela via cognitiva, segundo Saviani. ” Competência adquirida por esquemas construídos pelo sujeito e interação com o ambiente, equilíbrio e acomodação “.

Mas logo em seguida, a pedagogia da competência, rompe com esta interação das pessoas com o seu meio (neoconstrutivismo) e passa a desprezar os conceitos de meio cultural-social do indivíduo, assim como os chamados conhecimentos prévios.

As competências cognitivas ganham forças nas afetividades emocionais. Saviani afirma que a competência nesta fase se funde com o “neopragmatismo”, então, torna-se “verdade elidida”, ou seja, veracidade suprimida. Elas podem ser adquiridas por mecanismos adaptativos do meio natural e social, ou seja, as pessoas podem ser ajustadas ao “processo produtivo”, mesmo que não estejam totalmente competentes.

A ideia é que a produção aumente com o trabalho não pago, o que Saviani define como “criação de valor de troca ou obter o máximo com o mínimo”. Aqui, vamos abrir parênteses para mostrarmos a fusão da: Pedagogias Tecnicistas de um lado - nela têm aquilo que de acordo com Saviani, os princípios de racionalidade e que nos anos 70, perseguia as iniciativas individuais com controle e direcionamento do Estado. De outro lado, a Pedagogia dos anos 90, que valoriza os mecanismos de mercado, com apoio da iniciativa privada, ONGˢ e parcerias público-privadas. Essa última, busca flexibilizar o processo; trata-se de uma inspiração que de acordo com Saviani, seria do Toyotismo. E depois, o neotoyotismo, busca atualizar as pessoas, deslocando-os novamente do eixo de processo de aprendizagem para o de resultado.

O foco passa a ser a avaliação, sendo esta, encarregada de garantir eficiência e produção. Ela ganha o papel principal, a bola da vez, do Estado e da União. Estudantes, gestores e professores devem ser avaliados a partir de resultados obtidos. Esse foco no resultado abre espaço no Brasil para penetração da Pedagogia Corporativa, que de acordo com Saviani é para atender a determinados nichos do mercado.

A pedagogia da “Qualidade  Total” defende a satisfação total do cliente e os funcionários devem vestir a camisa da empresa. A ideia é gerar competição entre os trabalhadores em torno do empenho pessoal com objetivos e metas. Os professores que ensinam são considerados, nesta teoria, como “prestadores de serviços”, os alunos tornam-se clientes, numa visão que a educação é um produto e que pode ser produzida com qualidade variável.

É a concepção da produção de diversos saberes ou diversidade, alunos diferentes com instituições diversificadas. Os clientes da escola são a comunidade e as empresas. Neste sentido, devem ficar satisfeitos. O professor, educador das novas gerações deve se transformar em treinador, isto é, para Saviani, a educação deixa de ser um trabalho de esclarecimentos e de conscientização para ser um trabalho de doutrinação, convencimento e treinamento para o mercado.

Trata-se de uma pedagogia que exclui as pessoas e depois tenta incluí-las, definida por Acácia Kuenzer, como “exclusão includente”. Segundo Saviani, o trabalhador é primeiro excluído do trabalho formal e depois incluído na informalidade. Caso queira voltar para o emprego formal perderá vários direitos e sofrerá diminuição de salário. Eis o drama atual do professor na visão de Saviani. Ele também é vítima da inclusão excludente.

 

 


Nenhum comentário:

Postar um comentário