Joaquim Luiz Nogueira
Segundo Hannah
Arendt, filósofa alemã de origem judaica (1906 – 1975), qualquer Estado fundado
na ideia homogênea de nação estaria fadado a expulsar quem não pertencesse à
nação e, assim reproduziria a relação estrutural entre Estado-nação e a
produção de pessoas apátridas.
O filósofo e
sociólogo alemão e também de origem judaica Walter Benjamin (1892 – 1940), definiu
essas pessoas sem pátria como escombros, espécie de ruínas e que na medida em
que a história do progresso avançasse essa expulsão continuaria.
Neste aspecto, Arendt,
declarava que para ter legitimidade, todo Estado teria de aceitar e proteger a
heterogeneidade de sua população, isto é, a pluralidade. Dessa maneira
evitava-se o avanço das pessoas apátridas, expulsas ou excluídas.
Para Arendt, a heterogeneidade cabia a todos os países
a partir de algum ponto do século XIX, ou pelo menos se tornou um problema
explícito para o Estado-nação desde Vestfália (A Paz de Vestfália “sec. XVII“ marcou
o início da hegemonia da França na Europa e do declínio do poder Habsburgo), pois
afirmou a supremacia do poder temporal (não religioso) sobre o papado, um
aspecto fundamental para a consolidação do poder monárquico nos países
europeus.
Em outros pontos, no entanto, Arendt, parece
estabelecer uma ontologia da Pluralidade. A pluralidade de todas e quaisquer
populações passa a constituir como precondição da vida política, e qualquer Estado
político, política pública ou decisão que vise eliminar ou limitar a
pluralidade é tida como racista, quiçá genocida.
Segundo
Arendt, a coabitação (vida em comum) era uma precondição da vida política, e
embora, até certo ponto, possamos escolher com quem dividir uma cama ou uma
vizinhança, não podemos escolher com quem coabitar a Terra. Essa coabitação
continua sendo a condição não escolhida de todas as decisões políticas, se tais
decisões não forem genocidas.
Nos
termos de ARENDT, todo mundo deve ter o direito de pertencer, pois, os modos de
pertencimento existentes não fundamentam ou justificam esse direito como
fundamental para cidadania. É este aspecto de “modo de pertencimento” que vamos
buscar entendimento no espaço da escola, já que segundo pesquisa de Paula
Almeida de Castro, Professora Adjunta/Departamento de Educação – UEPB, Camila
Matos Viana e Sarah Thalita Guimarães Costa, ambas na graduação de Pedagogia da
UEPB, descreveram que os aspectos da identidade que balizam a noção de
pertencimento.
Para
Castro, são complexas tessituras das quais emergem o sujeito escolar contemporâneo,
diversas formas de construção de identidades pelo aluno no interior da escola,
sugerem que este recrie para si, em diferentes momentos, o papel de aluno.
Na
escola, descreve Castro, o estudante tenta se adaptar a uma nova condição
identitária interposta em diferentes momentos de sua vida escolar. O sujeito
flexibiliza suas ações, atitudes e valores de modo a tornar-se aluno para si e
para os outros que permeiam o espaço da escola e da sala de aula.
O fracasso escolar, por exemplo, segundo a
pesquisa de Castro “é, quase sempre, associado aos relacionamentos
interpessoais e ao comportamento do aluno. Dessa forma, entende-se que é pelo
somatório entre as tensões das experiências positivas e das negativas e/ou
traumáticas que o indivíduo pode, em seu processo identitário, tornar viáveis
as suas formas de pertencimento dentro e fora das escolas”.
Para
Castro, as escolas “podem ainda possibilitar que o sujeito esteja mais
habilitado e flexível para adaptar-se a novas situações que, por sua vez, vão
demandar novos conhecimentos”. Neste sentido, o espaço escolar é caracterizado
como lugar onde se amplia as conquistas e experiências dos alunos, tanto
positivas como as negativas.
O
espaço da escola deve compreender segundo Castro, que as estratégias dos alunos
indicam que as identidades não são fixas, são sempre inacabadas e em contínuo
processo de construção. Elas se desenvolvem pelo agir em um mundo em mudança,
sobretudo na contemporaneidade.
A
escola torna-se o palco de todas as articulações ao mesmo tempo, cujas
manifestações e o progresso de cada identidade, assim como as transformações de
acordo com Castro, “acontecem no espaço de “fora” – que modifica a condição de
vida – quanto no espaço de “dentro” – trabalhando as condições individuais”
Portanto,
muitas vezes temos a sensação de que as transformações do espaço escolar nas
periferias ocorrem por uma espécie de ampliação das ruas, das moradias e da
cultura de suas clientelas, enquanto pessoas apátridas nos termos de Arendt ou da
vontade dos escombros como chamou Benjamin.
A
escola, os funcionários, gestores e professores não podem escolher quem deve ou
não matricular-se ou ocupar a sala de aula, pois, nos termos de ARENDT, todo
mundo deve ter o direito de pertencer e de seu modo. Dessa maneira, a pluralidade
de todas e quaisquer populações passa a constituir como precondição da escola, da
vida política, e qualquer Estado político, política pública ou decisão que vise
eliminar ou limitar a pluralidade é tida como racista, quiçá genocida.
Fonte:
Veja
mais em
https://educacao.uol.com.br/disciplinas/historia/paz-de-vestfalia-acordo-entre-paises-europeus-encerrou-a-guerra-dos-trinta-anos.htm?cmpid=copiaecola
IDENTIDADE,
PERTENCIMENTO E RESILIÊNCIA NO CONTEXTO ESCOLAR: UM ESTUDO ETNOGRÁFICO NA
PERSPECTIVA DE ALUNOS COMO / PESQUISADORES Paula Almeida de Castro Professora
Adjunta/Departamento de Educação – UEPB Camila Matos Viana Graduanda de
Pedagogia – UEPB Sarah Thalita Guimarães Costa Graduanda de Pedagogia – UEPB http://www.editorarealize.com.br/revistas/fiped/trabalhos/Trabalho_Comunicacao_oral_idinscrito_1200_425fdbb52737d5336e38efb0940f6092.pdf
Judth
Butler, Caminhos Divergentes/Boitempo
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