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terça-feira, 7 de outubro de 2014

UM HISTÓRICO DAS “COMPETÊNCIAS NA ESCOLA NA VISÃO DE DEMERVAL SAVIANI”



Joaquim Luiz Nogueira

Nascida em meio ao Pós-moderno e sob a influência dos computadores e seus espaços virtuais, cuja utilidade serviria para imaginar situações problemas e resolvê-las artificialmente. Esses projetos virtuais simulados em ciberespaços criavam modelos de eficácia, desempenho e competência, que segundo Saviani era “a lógica da ação positiva”.
Na década de 90, os interesses privados ganham força, pois são orientados pelas competências dos indivíduos em fazer escolhas, conhecido na época como “capital humano individual”. Aqueles que no computador iriam para a lixeira, na sociedade e na escola formavam uma categoria chamada de “excluídos e evadidos”.
Os “excluídos” foram orientados pelo mercado a buscar trabalhos por conta própria e a escola deveria deslocar seu eixo, como esclarece Saviani,  isto é, do processo educativo lógico para o psicológico, dos conteúdos para novos métodos centrados no aluno e não mais na disciplina.
Os excluídos que não foram selecionados pelo mercado, agora deveriam passar pela escola e o papel do professor não seria “ensinar para aprender algo ou assimilar conhecimentos, mas aprender a aprender”. A escola deveria demonstrar como se aprende a estudar ou buscar.
O aluno deveria buscar conhecimento por si mesmo, adaptar-se para ser empregável. Esta conduta levou a massa de excluídos a ganharem flexibilidade na invenção de novas operações simbólicas, o que podemos interpretar como uma nova compreensão do mundo.
             A nova compreensão de mundo dos excluídos os afasta da escola, e esta tem a  missão de fazer ajustes em nome do mercado, então temos o “Relatório da UNESCO em 1996 e os P.C. Nˢ”. Esses instrumentos, de acordo com Saviani, oferecem a base dos currículos no Brasil, que passam agora para uma política de inclusão de novas competências, ou seja, os novos saberes dos excluídos.
Para isso, a escola deve reconhecer novas relações entre conhecimento e trabalho, iniciativas e inovações. Nascem novas práticas educativas, definidas por Saviani como “características light”, cujas escolas  empresas, ONGˢ, sindicatos, religiões e academias deveriam adotar.
Com base nas teorias de Piaget, o ponto de partida das novas práticas da aprendizagem para atingir o conhecimento passa a ser “as ações”. Essas seriam responsáveis pelas conexões “sensório-motor”, isto é, para ligar as percepções aos movimentos, mesmo que sem representação ou finalidade.
A percepção e o movimento dos alunos estavam direcionados segundo esta teoria para conquista de fins práticos, por exemplo, bagunça na sala de aula. Esse movimento só trabalha com o que percebe, isto é, realidade interpretada como sinais, pois não são capazes de interpretar signos, símbolos, esquemas e conceitos mais complexos.
A saída da escola e da fonte do conhecimento, para incluir os excluídos nos anos 90, está na ação e nas relações professor/aluno. É o construir (construtivismo) que passa a orientar as práticas escolares. Os relatos dos alunos e professores ganham importância e suas narrativas cotidianas transformam-se em livros. É a ideia do que é vivido, ou seja, não organizado e não pensado, realidade do que é agora individual.
Voltamos à competência, emergida nos anos 60 como fruto do behaviorismo, identificada nesta fase inicial como objetivo que o aluno deveria atingir para realizar as operações, isto é, adquirir competências pela via cognitiva, segundo Saviani. ”Competência adquirida por esquemas construídos pelo sujeito e interação com o ambiente, equilíbrio e acomodação“.
Mas logo em seguida, a pedagogia da competência, rompe com esta interação do aluno com o seu meio (neoconstrutivismo) e passa a desprezar os conceitos de meio cultural-social do aluno, assim como os chamados conhecimentos prévios.
Descobre-se que as competências cognitivas ganham forças nas afetividades emocionais. Saviani afirma que a competência nesta fase funde-se com o “neopragmatismo”, então tornando “verdade elidida”, ou seja, veracidade suprimida. Elas podem ser adquiridas por mecanismos adaptativos do meio natural e social, ou seja, os alunos podem ser ajustados ao “processo produtivo”, mesmo que não estejam totalmente competentes.
Para formar trabalhadores e cidadãos, o conceito de qualificação, segundo Saviani, deveria ser guiado por “competências”. As escolas deveriam dar ênfase às competências no horizonte das disciplinas de conhecimento. O ensino das competências seria focado em determinadas situações, maximizado a eficiência para tornar os indivíduos mais produtivos no mercado de trabalho e mais participativos na sociedade. A ideia é que a produção aumente com o trabalho não pago, o que Saviani define como “criação de valor de troca ou obter o máximo com o mínimo”.
Aqui, vamos abrir parênteses para mostrarmos a fusão da: Pedagogias Tecnicistas de um lado - nela têm aquilo que de acordo com Saviani, os princípios de racionalidade e que nos anos 70, perseguia as iniciativas individuais com controle e direcionamento do Estado. De outro lado, a Pedagogia dos anos 90, que valoriza os mecanismos de mercado, com apoio da iniciativa privada, ONGˢ e parcerias público-privadas. Essa última, busca flexibilizar o processo; trata-se de uma inspiração que de  acordo com Saviani, seria do Toyotismo. E depois, o neotoyotismo, busca atualizar os professores, deslocando-os novamente do eixo de processo de aprendizagem para o de resultado.
O foco passa a ser a avaliação, sendo esta, encarregada de garantir eficiência e produção. Ela ganha o papel principal, a bola da vez, do Estado e da União. Alunos, escolas e professores devem ser avaliados a partir de resultados obtidos. As verbas, salários, recursos, tudo deve ser condicionado a resultados, produção e eficiência. É segundo Saviani, a busca da “qualidade total “ou “padrão FIFA da copa no Brasil”. Esse foco no resultado abre espaço no Brasil para penetração da Pedagogia Corporativa, que de acordo com Saviani é para atender a determinados nichos do mercado.
A pedagogia da “Qualidade  Total” defende a satisfação total do cliente e os funcionários devem vestir a camisa da empresa. A ideia é gerar competição entre os trabalhadores em torno do empenho pessoal com objetivos e metas. Os professores que ensinam são considerados, nesta teoria, como “prestadores de serviços”, os alunos tornam-se clientes, numa visão que a educação é um produto e que pode ser produzida com qualidade variável.
É a concepção da produção de diversos saberes ou diversidade, alunos diferentes com instituições diversificadas. Os clientes da escola são a comunidade e as empresas. Neste sentido, devem ficar satisfeitos. O professor, educador das novas gerações deve se transformar em treinador, isto é, para Saviani, a educação deixa de ser um trabalho de esclarecimentos e de conscientização para ser um trabalho de doutrinação, convencimento e treinamento para o mercado.
Trata-se de uma pedagogia que exclui os alunos e depois tenta incluí-los, definida por Acácia Kuenzer, como “exclusão includente”. Segundo Saviani, o trabalhador é primeiro excluído do trabalho formal e depois incluído na informalidade. Caso queira voltar para o emprego formal perderá vários direitos e sofrerá diminuição de salário.
Agora no lado educativo, ou educação voltada para o mercado, à estratégia para incluir os alunos nos “padrões de qualidade exigidos” nas empresas, e até para o nível idade série /ano, começa a ser feito com as metas da universalização do acesso, segundo Saviani. ”Essas crianças e jovens permanecem excluídos do mercado de trabalho e da participação ativa na vida da sociedade. Consuma-se, desse modo, a inclusão excludente”.
Concluindo, a escola democrática, reivindicada por docentes nos anos 80, tem a seguinte afirmação segundo “Saviani”:” Agora, o êxito da escola e da política educacional que orienta, depende apenas iniciativa e dedicação de vocês, professores”. Eis o drama atual do professor na visão de Saviani. Ele também é vítima da inclusão excludente.


Fonte: História das ideias pedagógicas no Brasil 
Demerval Saviani  

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