Joaquim Luiz Nogueira
Nascida em meio ao
Pós-moderno e sob a influência dos computadores e seus espaços virtuais, cuja
utilidade serviria para imaginar situações problemas e resolvê-las
artificialmente. Esses projetos virtuais simulados em ciberespaços criavam
modelos de eficácia, desempenho e
competência, que segundo Saviani era “a
lógica da ação positiva”.
Na década de 90, os
interesses privados ganham força, pois são orientados pelas competências dos
indivíduos em fazer escolhas, conhecido na época como “capital humano individual”. Aqueles que no computador iriam para a
lixeira, na sociedade e na escola formavam uma categoria chamada de “excluídos
e evadidos”.
Os “excluídos” foram
orientados pelo mercado a buscar trabalhos por conta própria e a escola deveria
deslocar seu eixo, como esclarece Saviani, isto é, do processo educativo lógico para o
psicológico, dos conteúdos para novos métodos centrados no aluno e não mais na
disciplina.
Os excluídos que não
foram selecionados pelo mercado, agora deveriam passar pela escola e o papel do
professor não seria “ensinar para
aprender algo ou assimilar conhecimentos, mas aprender a aprender”. A
escola deveria demonstrar como se aprende a estudar ou buscar.
O aluno deveria buscar conhecimento
por si mesmo, adaptar-se para ser empregável. Esta conduta levou a massa de
excluídos a ganharem flexibilidade na invenção de novas operações simbólicas, o
que podemos interpretar como uma nova compreensão do mundo.
A nova
compreensão de mundo dos excluídos os afasta da escola, e esta tem a missão de fazer ajustes em nome do mercado,
então temos o “Relatório da UNESCO em 1996 e os P.C. Nˢ”. Esses instrumentos,
de acordo com Saviani, oferecem a base dos currículos no Brasil, que passam
agora para uma política de inclusão de novas competências, ou seja, os novos
saberes dos excluídos.
Para isso, a escola
deve reconhecer novas relações entre conhecimento e trabalho, iniciativas e
inovações. Nascem novas práticas educativas, definidas por Saviani como
“características light”, cujas escolas empresas, ONGˢ, sindicatos, religiões e
academias deveriam adotar.
Com base nas teorias de
Piaget, o ponto de partida das novas práticas da aprendizagem para atingir o
conhecimento passa a ser “as ações”. Essas seriam responsáveis pelas conexões
“sensório-motor”, isto é, para ligar as percepções aos movimentos, mesmo que
sem representação ou finalidade.
A percepção e o
movimento dos alunos estavam direcionados segundo esta teoria para conquista de
fins práticos, por exemplo, bagunça na sala de aula. Esse movimento só trabalha
com o que percebe, isto é, realidade interpretada como sinais, pois não são
capazes de interpretar signos, símbolos, esquemas e conceitos mais complexos.
A saída da escola e da
fonte do conhecimento, para incluir os excluídos nos anos 90, está na ação e
nas relações professor/aluno. É o construir (construtivismo) que passa a
orientar as práticas escolares. Os relatos dos alunos e professores ganham
importância e suas narrativas cotidianas transformam-se em livros. É a ideia do
que é vivido, ou seja, não organizado e não pensado, realidade do que é agora
individual.
Voltamos à competência,
emergida nos anos 60 como fruto do behaviorismo, identificada nesta fase
inicial como objetivo que o aluno deveria atingir para realizar as operações,
isto é, adquirir competências pela via cognitiva, segundo Saviani. ”Competência
adquirida por esquemas construídos pelo sujeito e interação com o ambiente,
equilíbrio e acomodação“.
Mas logo em seguida, a
pedagogia da competência, rompe com esta interação do aluno com o seu meio
(neoconstrutivismo) e passa a desprezar os conceitos de meio cultural-social do
aluno, assim como os chamados conhecimentos prévios.
Descobre-se que as
competências cognitivas ganham forças nas afetividades emocionais. Saviani
afirma que a competência nesta fase funde-se com o “neopragmatismo”, então tornando “verdade elidida”, ou seja, veracidade suprimida. Elas podem ser
adquiridas por mecanismos adaptativos do meio natural e social, ou seja, os
alunos podem ser ajustados ao “processo
produtivo”, mesmo que não estejam totalmente competentes.
Para formar
trabalhadores e cidadãos, o conceito de qualificação, segundo Saviani, deveria
ser guiado por “competências”. As escolas deveriam dar ênfase às competências no
horizonte das disciplinas de conhecimento. O ensino das competências seria
focado em determinadas situações, maximizado a eficiência para tornar os
indivíduos mais produtivos no mercado de trabalho e mais participativos na
sociedade. A ideia é que a produção aumente com o trabalho não pago, o que
Saviani define como “criação de valor de
troca ou obter o máximo com o mínimo”.
Aqui, vamos abrir
parênteses para mostrarmos a fusão da: Pedagogias Tecnicistas de um lado - nela
têm aquilo que de acordo com Saviani, os princípios de racionalidade e que nos
anos 70, perseguia as iniciativas individuais com controle e direcionamento do
Estado. De outro lado, a Pedagogia dos anos 90, que valoriza os mecanismos de
mercado, com apoio da iniciativa privada, ONGˢ e parcerias público-privadas.
Essa última, busca flexibilizar o processo; trata-se de uma inspiração que
de acordo com Saviani, seria do Toyotismo.
E depois, o neotoyotismo, busca atualizar os professores, deslocando-os
novamente do eixo de processo de aprendizagem para o de resultado.
O foco passa a ser a avaliação,
sendo esta, encarregada de garantir eficiência e produção. Ela ganha o papel
principal, a bola da vez, do Estado e
da União. Alunos, escolas e professores devem ser avaliados a partir de
resultados obtidos. As verbas, salários, recursos, tudo deve ser condicionado a
resultados, produção e eficiência. É segundo Saviani, a busca da “qualidade total “ou “padrão FIFA da copa no Brasil”. Esse
foco no resultado abre espaço no Brasil para penetração da Pedagogia
Corporativa, que de acordo com Saviani é para atender a determinados nichos do
mercado.
A pedagogia da “Qualidade Total” defende a satisfação total do
cliente e os funcionários devem vestir a camisa da empresa. A ideia é gerar
competição entre os trabalhadores em torno do empenho pessoal com objetivos e
metas. Os professores que ensinam são considerados, nesta teoria, como “prestadores de serviços”, os alunos
tornam-se clientes, numa visão que a educação é um produto e que pode ser
produzida com qualidade variável.
É a concepção da
produção de diversos saberes ou diversidade, alunos diferentes com instituições
diversificadas. Os clientes da escola são a comunidade e as empresas. Neste
sentido, devem ficar satisfeitos. O professor, educador das novas gerações deve
se transformar em treinador, isto é, para Saviani, a educação deixa de ser um
trabalho de esclarecimentos e de conscientização para ser um trabalho de
doutrinação, convencimento e treinamento para o mercado.
Trata-se de uma
pedagogia que exclui os alunos e depois tenta incluí-los, definida por Acácia
Kuenzer, como “exclusão includente”. Segundo Saviani, o trabalhador é primeiro
excluído do trabalho formal e depois incluído na informalidade. Caso queira
voltar para o emprego formal perderá vários direitos e sofrerá diminuição de
salário.
Agora no lado
educativo, ou educação voltada para o mercado, à estratégia para incluir os
alunos nos “padrões de qualidade exigidos” nas empresas, e até para o nível
idade série /ano, começa a ser feito com as metas da universalização do acesso,
segundo Saviani. ”Essas crianças e jovens permanecem excluídos do mercado de
trabalho e da participação ativa na vida da sociedade. Consuma-se, desse modo,
a inclusão excludente”.
Concluindo, a escola
democrática, reivindicada por docentes nos anos 80, tem a seguinte afirmação
segundo “Saviani”:” Agora, o êxito da escola e da política educacional que orienta,
depende apenas iniciativa e dedicação de vocês, professores”. Eis o drama atual do professor
na visão de Saviani. Ele também é vítima da inclusão excludente.
Fonte: História das ideias pedagógicas no Brasil
Demerval Saviani
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