Por Uma Pedagogia Quântica
Joaquim Luiz Nogueira
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Este artigo tem como base o Livro: Em Busca da
Empresa Quântica - Clemente Nobrega
A
impressão de que as coisas estão além de nosso controle é o sintoma de nosso
fracasso em entender uma realidade mais profunda da vida na organização escolar
e na existência em geral. No contexto educacional e de ensino, as interconexões
invisíveis, entre outras coisas, que a princípio julgamos separadas, porém, são
elas que estão na base de tudo. Toda a realidade vem das relações com a
comunidade escolar e os sistemas educacionais.
A função
de ensinar e de aprender representam um mar de infinitas possibilidades. Ela
não nos diz o que o "evento" é, mas tudo o que o acontecimento pode
ser. Não diz nada sobre "atualidades", só sobre as potencialidades
dos estudantes, professores, gestores, familiares, entre outros elementos que
compõem a teia de interconexões.
No
momento em que é feita a observação da situação pedagógica pelo professor ou
gestor, a função de ensinar e de aprender colapsa para aquela forma em que o
experimentador se preparou para detectar naquele momento de aula. Neste
aspecto, a consciência abrange o reconhecimento e à aceitação do múltiplo, do
ambíguo, do incerto, ou seja, aceitação de que há infinitas potencialidades - a
escolha de uma delas faz com que, automaticamente, as outras desapareçam, pois,
escolher é eliminar, segundo a visão da pedagogia quântica.
Nesta
visão, a pedagogia quântica se inspira no foco das relações que acontecem no
ambiente da comunidade escolar, na qual se torna a base para todas as
definições e decisões, isto é, nada fica isolado. A escola é a ponte entre o
domínio das potencialidades e das atualidades. Através dela e da imaginação,
entraremos em contato com o mundo das potencialidades, e escolheremos um foco
para apoiarmos entre as muitas possibilidades.
Neste aspecto,
interessa pouco falar no que o estudante "realmente é". Esqueça o que
ele "realmente é". O que "realmente é" é aquilo que os professores,
os familiares ou eles mesmos, dizem que realmente são. A realidade é aquilo que
os indivíduos percebem como tal.
É a
criação da realidade por participação ativa, pois, neste caso, o ambiente
permanece não criado até que nós interajamos com ele. Enquanto o estudante não
se engaja no contexto, não percebe como ele é. Seja qual for a natureza da
realidade objetiva, só conseguirá apreendê-la através de narrativas, isto é, Histórias
que levem à ação pedagógica desejada.
Na escola
existe uma tendencia instintivamente mecanicista, que enfatiza o ponto de vista
de algo como certo, isto é, único, pois segundo este pensamento só há uma
maneira de olhar as coisas e interpretá-las. Logo, não existem tolerância para
ambiguidade ou para ideia de que é possível obter resultados fora do contexto
do "ou isso ou aquilo” que tanto nos perturba e incomoda.
Neste
sentido, uma afirmação ou é verdadeira ou é falsa. Um curso de ação, ou bom ou
mau. Nada de nuança ou paradoxo. A multiplicidade e a variedade não cabem nesse
modelo de linearidade na qual abrange a grande maioria dos modelos de avaliação
em vigor atualmente.
Portanto,
as interconexões não são nada demais no modelo máquina que estão em vigor nas
avaliações contemporâneas, mas são tudo no modelo da pedagogia quântica, pois no
modelo máquina, “coisa”, leva ao confronto e ao conflito entre todos, já que a
disputa e a luta pela supremacia da maneira "certa" de ver e de fazer
leva para fórmulas e apontamentos de caminhos únicos.
No contexto
da pedagogia quântica é o oposto de tudo isso, nele não há lugar para fórmulas
ou checklists, pois ele é “fluido” e nada de "faça isso ou esse é o
caminho". O importante é o engajamento participativo dos docentes e
funcionários com os estudantes e familiares, ou seja, com as pessoas, com os eventos
que criam a realidade, já que os avanços ou o sucesso só pode emergir de um
contexto que seja rico em relações.
O
ambiente escolar não vai avançar enquanto o modelo mecanicista de receituários
estiver sendo aplicado, isto é, ele serviu bem na era da simplicidade, porém
não funciona mais neste momento de complexidade em que vivemos hoje. Agora é a
lógica do diálogo que tem de ocupar o centro, sem ela, não podemos construir
novos resultados.
Na
pedagogia quântica o investimento emocional que se coloca no processo é que se torna
a chave para a (posse) da aprendizagem, pois chamar a atenção dos estudantes ou
obrigá-los a aceitar certas realidades que eles não desejam, não possuem efeitos
satisfatórios. Para eles, não há realidade se eles não participarem do processo
ou de sua formulação, isto é, só podem tomar consciência de um plano através da
participação nele. A escola quântica é a flexibilidade à procura de significado,
não demonstração de força ou de poder.
A
impressão de que a escola está fora de controle é um sintoma do fracasso em
entender uma realidade mais profunda do espaço escolar e da vida dos
estudantes. Os velhos vícios do raciocínio linear, sequencial, que nos
acompanham implacavelmente, terão de fato de ser abandonados.
É numa
visão mais integrada que a solução interage, isto é, da dinâmica do sistema e
da comunidade escolar, pois, é daí que tudo emerge, não dos efeitos isolados de
cada estudante ou docente. Evoluímos do objeto para o símbolo e deste, para a
linguagem e desta última para a comunicação, ou seja, para o diálogo e as
perguntas, já que seres vivos respondem desordem com vida renovada, organizada,
mais complexas e inteligentes.
Nossa
função enquanto professores ou gestores será garantir a sobrevivência da
escola, embutindo nela a competência para lidar com os estímulos perturbadores
da comunidade escolar; A desordem trazida pelo coletivo torna-se a fonte da
ordem, pois ela, incorpora o processo do crescimento, isto é, uma ordem sem
controle.
No
entanto, os sistemas escolares criativos devem se manter abertos, ou seja, tem
de aprender no desequilíbrio, sobreviver no limite entre ordem e caos, espécie
de linha criativa usada pelos sistemas biológicos vivos. Permanecer à espreita,
dialogar constantemente com os envolvidos, buscar uma abordagem geral para
atender a complexidade em que vivemos.
A teoria
da complexidade é a pesquisa daquilo que emerge, isto é, a tentativa de
entender e explicar as propriedades do novo em uma abordagem não - linear, cuja
afirmação nos diz que, o coletivo pode ser mais importante que as partes,
então, as conotações, a criatividade, a novidade e a surpresa emergem da
estrutura via conexões entre os envolvidos.
Portanto,
o motor da complexidade reconhece que a existência é o resultado do processo de
informação, assim, temos que acompanhar a mudança passo a passo, agindo em
sintonia com ela, isto é, a escola tem de reagir como um sistema que se
auto-organiza, inteligente para processar a informação que chega com os
estudantes ou comunidade escolar e se autorrenovar.
Na escola
em que todos aprendem, o papel dos docentes, funcionários e gestores será
operar na construção de uma teia que estabeleça um contexto adequado para
permitir a emergência da criatividade na adaptação e sobrevivência, com base,
na primazia da responsabilidade individual na formação do futuro de cada
pessoa.
Neste aspecto,
os fins e as condições para atingi-los não são fixos nem estáveis. Essas coisas têm que
ser vistas como consequências de processos adaptativos (processos de
aprendizado). Estes processos permitem à escola responder ao inesperado, isto
é, não significa nem impor, nem pressupor resultados ou métodos, pois o futuro
é aberto e depende das interações entre os envolvidos.
As
adaptações que os professores, gestores e estudantes praticam são sinônimos de
aprendizagem, significa o aprender para sobreviver. São estes elementos
adaptativos que nos ensinam algo para a vida real. A criatividade e a
aprendizagem consistem em resistir aos processos fechados, seletivos ou
padronizados. Pois, o que alimenta a evolução é a existência de multiplicidade
e variedades, ou seja, a possibilidade de múltiplas escolhas.