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quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Pensando a escola como ambiente de aprendizagem


Joaquim Luiz Nogueira

Grandes pensadores do século XX, entre eles, Heidegger e Deleuze, tentaram esclarecer como funciona os seres humanos junto aos seus ambientes, Mas no início do século, um biólogo de origem alemã chamado Jacob Johann von Uexküll, investigador do mundo subjetivo e da percepção dos animais escreveu sobre o mundo dos organismos mais elementares até os superiores e estabeleceu:

“(...) uma infinita variedade de mundos perceptivos, todos igualmente imperfeitos e ligados entre si como uma gigantesca partitura musical e, todavia, incomunicantes e reciprocamente exclusivos, em cujo centro estão pequenos seres familiares”. AGAMBEN,1942, P.60.

Uexküll, define sua pesquisa como passeios em mundos incognoscíveis e fala que não existe um tempo e um espaço igual para todos os viventes e que podem variar de acordo com o ponto de vista de onde o observamos. Assim não existe uma floresta enquanto ambiente objetivamente determinado, existe:

- uma floresta para o guarda-florestal;
- uma floresta para o caçador;
- uma floresta para o botânico;
- uma floresta para o viajante;
- uma floresta para o amigo da natureza.

Nesse sentido, vamos imaginar a escola também como espaço de aprendizagem e que não há como pensá-la enquanto ambiente objetivo e determinado, mas como um lugar, cujas pessoas que as circulam, nos levam a concordar com Uexküll, ou seja, parecem que não se movem no mesmo mundo em que as observamos, nem compartilham conosco as mesmas ideias e que tal perguntarmos o que significa:

- uma escola para as famílias estruturadas;
- uma escola para famílias em situações de risco;
- uma escola para alunos interessados;
- uma escola para alunos desmotivados;
- uma escola para o Diretor da unidade;
- uma escola para o Professor- coordenador;
- uma escola para o professor de cada Disciplina;
- uma escola para o supervisor;
- uma escola para o dirigente regional;
- uma escola para o secretário de educação municipal ou estadual;
- uma escola para o prefeito ou governador..


Depois de coletarmos tudo, será que estamos preparados para orquestrarmos essa composição musical no ambiente escolar? Vejamos o que Uexküll nos fala sobre uma haste de flor do campo e os diversos pontos de vista sobre a mesma:

- uma rapariga colhe suas flores para pregar em seu vestido;
- uma formiga se serve como trajeto para chegar em uma outra flor;
- uma larva de cigarra lhe perfura para construir seu casulo;
- uma vaca o mastiga e engole para se alimentar.


Na natureza, segundo Uexküll, cada ambiente é uma unidade fechada sobre si mesma, que resulta do destaque seletivo de uma série de elementos. Assim, numa escola, o educador ou pesquisador terá como primeira tarefa, investigar e reconhecer os portadores de significado que constituem o seu ambiente de aprendizagem.

autor - Joaquim Luiz Nogueira
                                          www.autoresfree.com.br
Livro Fonte: Giorgio Agaben : O Aberto: o Homem e o Animal . Biblioteca Nacional de Portugal , 1942.

Um comentário:

  1. Comentário do Prof. Mestre Elvair Grossi

    Quando a retina coopta a razão

    O professor Joaquim, nos propõe um momento singular de pura contemplação crítica com a vida. O mestre compila na prole da filosofia e da crítica racional, um diagnóstico das facetas da vida. Tomando seus escritos como base, é possível perceber que a nossa retina, permite-nos ver a relatividade da vida, do viver, do estar para vida e, principalmente, da relação dialógica com os objetos, com os artefatos sociais.

    Mas, devemos entender que esta relatividade se mobiliza quando nossas análises, nossos focos de observação se voltam para coletividade, para o todo, para o universal. Pois, ao recortar uma amostra desse universo de que fala o mestre, na intenção de observar e estudar os movimentos que ali se praticam, iremos constatar que lá não existe a relatividade e sim a objetividade. Pois, neste caso, cada ser está muito bem focado no seu objeto, no seu artefato, na sua busca. Por esta razão que a “escola” é um signo universal e a “floresta” também. Entretanto, como temos a retina e por meio dela a razão se anima, logo, a razão será o único instrumento capaz de promover a seletividade na universalidade, chegando na unidade. Assim, a escola ou a floresta sempre será diferente para cada retina, para cada razão. Talvez isso, seja o que explique a vida neste planeta.

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