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terça-feira, 11 de julho de 2023

Por uma Pedagogia Quântica

                     Por Uma Pedagogia Quântica

Joaquim Luiz Nogueira 


·         Este artigo tem como base o Livro: Em Busca da
Empresa Quântica - Clemente Nobrega



     A impressão de que as coisas estão além de nosso controle é o sintoma de nosso fracasso em entender uma realidade mais profunda da vida na organização escolar e na existência em geral. No contexto educacional e de ensino, as interconexões invisíveis, entre outras coisas, que a princípio julgamos separadas, porém, são elas que estão na base de tudo. Toda a realidade vem das relações com a comunidade escolar e os sistemas educacionais. 

A função de ensinar e de aprender representam um mar de infinitas possibilidades. Ela não nos diz o que o "evento" é, mas tudo o que o acontecimento pode ser. Não diz nada sobre "atualidades", só sobre as potencialidades dos estudantes, professores, gestores, familiares, entre outros elementos que compõem a teia de interconexões.  

No momento em que é feita a observação da situação pedagógica pelo professor ou gestor, a função de ensinar e de aprender colapsa para aquela forma em que o experimentador se preparou para detectar naquele momento de aula. Neste aspecto, a consciência abrange o reconhecimento e à aceitação do múltiplo, do ambíguo, do incerto, ou seja, aceitação de que há infinitas potencialidades - a escolha de uma delas faz com que, automaticamente, as outras desapareçam, pois, escolher é eliminar, segundo a visão da pedagogia quântica. 

Nesta visão, a pedagogia quântica se inspira no foco das relações que acontecem no ambiente da comunidade escolar, na qual se torna a base para todas as definições e decisões, isto é, nada fica isolado. A escola é a ponte entre o domínio das potencialidades e das atualidades. Através dela e da imaginação, entraremos em contato com o mundo das potencialidades, e escolheremos um foco para apoiarmos entre as muitas possibilidades.

Neste aspecto, interessa pouco falar no que o estudante "realmente é". Esqueça o que ele "realmente é". O que "realmente é" é aquilo que os professores, os familiares ou eles mesmos, dizem que realmente são. A realidade é aquilo que os indivíduos percebem como tal.

É a criação da realidade por participação ativa, pois, neste caso, o ambiente permanece não criado até que nós interajamos com ele. Enquanto o estudante não se engaja no contexto, não percebe como ele é. Seja qual for a natureza da realidade objetiva, só conseguirá apreendê-la através de narrativas, isto é, Histórias que levem à ação pedagógica desejada.

Na escola existe uma tendencia instintivamente mecanicista, que enfatiza o ponto de vista de algo como certo, isto é, único, pois segundo este pensamento só há uma maneira de olhar as coisas e interpretá-las. Logo, não existem tolerância para ambiguidade ou para ideia de que é possível obter resultados fora do contexto do "ou isso ou aquilo” que tanto nos perturba e incomoda.

Neste sentido, uma afirmação ou é verdadeira ou é falsa. Um curso de ação, ou bom ou mau. Nada de nuança ou paradoxo. A multiplicidade e a variedade não cabem nesse modelo de linearidade na qual abrange a grande maioria dos modelos de avaliação em vigor atualmente.

Portanto, as interconexões não são nada demais no modelo máquina que estão em vigor nas avaliações contemporâneas, mas são tudo no modelo da pedagogia quântica, pois no modelo máquina, “coisa”, leva ao confronto e ao conflito entre todos, já que a disputa e a luta pela supremacia da maneira "certa" de ver e de fazer leva para fórmulas e apontamentos de caminhos únicos.

No contexto da pedagogia quântica é o oposto de tudo isso, nele não há lugar para fórmulas ou checklists, pois ele é “fluido” e nada de "faça isso ou esse é o caminho". O importante é o engajamento participativo dos docentes e funcionários com os estudantes e familiares, ou seja, com as pessoas, com os eventos que criam a realidade, já que os avanços ou o sucesso só pode emergir de um contexto que seja rico em relações.

O ambiente escolar não vai avançar enquanto o modelo mecanicista de receituários estiver sendo aplicado, isto é, ele serviu bem na era da simplicidade, porém não funciona mais neste momento de complexidade em que vivemos hoje. Agora é a lógica do diálogo que tem de ocupar o centro, sem ela, não  podemos construir novos resultados.

Na pedagogia quântica o investimento emocional que se coloca no processo é que se torna a chave para a (posse) da aprendizagem, pois chamar a atenção dos estudantes ou obrigá-los a aceitar certas realidades que eles não desejam, não possuem efeitos satisfatórios. Para eles, não há realidade se eles não participarem do processo ou de sua formulação, isto é, só podem tomar consciência de um plano através da participação nele. A escola quântica é a flexibilidade à procura de significado, não demonstração de força ou de poder.

A impressão de que a escola está fora de controle é um sintoma do fracasso em entender uma realidade mais profunda do espaço escolar e da vida dos estudantes. Os velhos vícios do raciocínio linear, sequencial, que nos acompanham implacavelmente, terão de fato de ser abandonados.

É numa visão mais integrada que a solução interage, isto é, da dinâmica do sistema e da comunidade escolar, pois, é daí que tudo emerge, não dos efeitos isolados de cada estudante ou docente. Evoluímos do objeto para o símbolo e deste, para a linguagem e desta última para a comunicação, ou seja, para o diálogo e as perguntas, já que seres vivos respondem desordem com vida renovada, organizada, mais complexas e inteligentes.  

Nossa função enquanto professores ou gestores será garantir a sobrevivência da escola, embutindo nela a competência para lidar com os estímulos perturbadores da comunidade escolar; A desordem trazida pelo coletivo torna-se a fonte da ordem, pois ela, incorpora o processo do crescimento, isto é, uma ordem sem controle.

No entanto, os sistemas escolares criativos devem se manter abertos, ou seja, tem de aprender no desequilíbrio, sobreviver no limite entre ordem e caos, espécie de linha criativa usada pelos sistemas biológicos vivos. Permanecer à espreita, dialogar constantemente com os envolvidos, buscar uma abordagem geral para atender a complexidade em que vivemos.

A teoria da complexidade é a pesquisa daquilo que emerge, isto é, a tentativa de entender e explicar as propriedades do novo em uma abordagem não - linear, cuja afirmação nos diz que, o coletivo pode ser mais importante que as partes, então, as conotações, a criatividade, a novidade e a surpresa emergem da estrutura via conexões entre os envolvidos.

Portanto, o motor da complexidade reconhece que a existência é o resultado do processo de informação, assim, temos que acompanhar a mudança passo a passo, agindo em sintonia com ela, isto é, a escola tem de reagir como um sistema que se auto-organiza, inteligente para processar a informação que chega com os estudantes ou comunidade escolar e se autorrenovar.

Na escola em que todos aprendem, o papel dos docentes, funcionários e gestores será operar na construção de uma teia que estabeleça um contexto adequado para permitir a emergência da criatividade na adaptação e sobrevivência, com base, na primazia da responsabilidade individual na formação do futuro de cada pessoa.

Neste aspecto, os fins e as condições para atingi-los não são fixos nem estáveis. Essas coisas têm que ser vistas como consequências de processos adaptativos (processos de aprendizado). Estes processos permitem à escola responder ao inesperado, isto é, não significa nem impor, nem pressupor resultados ou métodos, pois o futuro é aberto e depende das interações entre os envolvidos.

As adaptações que os professores, gestores e estudantes praticam são sinônimos de aprendizagem, significa o aprender para sobreviver. São estes elementos adaptativos que nos ensinam algo para a vida real. A criatividade e a aprendizagem consistem em resistir aos processos fechados, seletivos ou padronizados. Pois, o que alimenta a evolução é a existência de multiplicidade e variedades, ou seja, a possibilidade de múltiplas escolhas.