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quarta-feira, 13 de novembro de 2019

Currículo Oculto e tragédia na Educação Pública.



Joaquim Luiz Nogueira 


Diante da política pública federal e estadual para educação pública no Brasil nos últimos anos, o ensino básico e os prédios escolares foram negligenciados para uma sobrevivência com poucos recursos, sem manutenção, sem funcionários ou novos concursos, salários defasados entre outros.

Os poucos profissionais que ainda estão nas redes públicas, esgotados e abandonados, considerados como culpados pelo fracasso pela não aprendizagem dos estudantes e tendo que fazer ações para reverter uma situação criada pela política pública de fabricação de resultados por meio de plataformas e sistemas, começaram uma ação de forma individualizada, no sentido de apoiar as iniciativas das políticas estatais, já que são obrigados a acreditarem e cumprirem as determinações advindas dos superiores, porém, sabem que na prática, não funcionam.

Outros profissionais da educação foram acolhidos por licenças médicas anuais, alguns revezam entre tentar trabalhar e fisioterapias, consultas, dentistas, doação de sangue, abonadas, faltas justificadas entre outras. Aqueles que permanecem sozinhos nas salas de aulas, com alunos indisciplinados, faltosos, agressivos, drogados, semialfabetizados, fora da idade para série/ano, famintos, liberdade assistida, adolescentes grávidas e familiares desajustados e violentos estão trabalhando no limite.

Até quando, o sistema comandado por máquinas ou MATRIX irá segurar esta situação sem revolução, saques, revoltas, criminalidade excessiva, roubos, zumbis, população de rua, desempregados, falta de mão de obra qualificada e tantas outras coisas que derivam desta fonte construída por políticas governamentais que agradam o topo do sistema capitalista nacional e internacional.

O fato de ignorar o que acontece nas escolas públicas e jogar com a propaganda de escolas bonitas, eficientes e colaborativas, não vai ajudar em nada. Cada vez mais, um exercito de jovens desqualificados, despreparados, desajustados serão lançados na sociedade, isto é, mais violência, mais crime, mais fome, mais revolta e mais desemprego.

Talvez, os governantes deveriam reconhecer o erro desta política dos últimos anos na educação dos jovens pobres e parar de querer culpar os professores pela não aprendizagem. Que tal enxergar a matéria prima que temos nas escolas públicas? Já seria um começo. É fácil julgar as deficiências da escola, sem conhecer o público e a realidade da clientela dos prédios públicos.  Fazer teoria de gabinete, visando economia da máquina estatal, sem pensar nas consequências derivadas desta política tem preço elevado para pagar em longo prazo.  

A Revolução é silenciosa e lenta, porém depois de vários anos de incentivos legais para não reprovar na escola pública, os jovens que não sabem que não aprenderam o suficiente, são empurrados para um mercado competitivo, cujos melhores empregos acabam nas mãos daqueles que aprenderam em escolas particulares. A grande massa passa a formar uma espécie de indivíduos sem criticidade, sendo assim, manobrados e controlados por grupos, gangues, mídias, traficantes, torcidas organizadas, igrejas, políticos e outros.

A grande massa permanecendo sem emprego digno, na informalidade ou no empreendedorismo, começam a se comunicar por códigos, gritos, grunhidos, figurinhas de internet, gravações de voz, letras de músicas populares, gestos, desenhos no corpo, gírias, hábitos, palavrões, danças, entre outras linguagens. A Internet se encarrega de produzir e transmitir esta nova linguagem destinada a uma comunicação de fácil entendimento, principalmente para gerar conflitos, violência, ódio e descontrole social.

As mídias, o capital e os políticos, todos lutam para engajamento nesta nova forma de comunicação, pois desejam liderar a massa rumos aos interesses de seus empreendimentos: telespectadores, consumo e eleitores.  A educação pública também busca o domínio desta nova forma de comunicação e para isso, os professores devem aprender a linguagem dos códigos usados pelos estudantes, contagio que leva também ao aprendizado de hábitos não convencionais para resolução de problemas: gritos, gírias, grunhidos, respostas automáticas, manobras, espertezas, jeitinhos, entre outros.

Os pais e responsáveis pelos estudantes também aprenderam esta nova forma de comunicação com os filhos e seus pontos de vistas são semelhantes aos menores. Trata-se de uma grande represa de lama tóxica, com vários sinais de que pode romper a barreira a qualquer momento, ou seja, toda escola pública pode ser vista como tragédia anunciada, basta observar os diversos elementos que constitui sua comunidade.

Se os gestores das escolas públicas não reconhecerem o potencial aprisionado em seus interiores, podem iniciar a explosão a qualquer momento, pois, os elementos diversos acolhidos pelas escolas públicas, sem nenhum critério de matricula para aluno, sem estrutura de funcionários, segurança ou professores, logo, a tragédia torna-se questão de tempo.
Depois das tragédias, as escolas recebem apoio das mídias, das empresas e até dos governantes. O prédio pode ser reformado, os ambientes tornam se adequados e até contratam segurança.