Joaquim Luiz Nogueira
Segundo
o documento: BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica.
Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão, 2013,
“A escola, face às exigências da Educação
Básica, precisa ser reinventada, ou seja, priorizar processos capazes de gerar
sujeitos inventivos, participativos, cooperativos, preparados para
diversificadas inserções sociais, políticas, culturais, laborais e, ao mesmo
tempo, capazes de intervir e problematizar as formas de produção e de vida. A
escola tem, diante de si, o desafio de sua própria recriação, pois tudo que a
ela se refere constitui-se como invenção: os rituais escolares são invenções de
um determinado contexto sociocultural em movimento”
Para
a renovação da Teoria Critica defendida pelo discipulo de Habermas, Axel
Honneth, pertencente da Escola alemã de Frankfurt, existe “a possibilidade de reatualizar a própria teoria a partir de contextos,
pois o homem como um ser em permanente construção” também pode ser
reestruturado. De acordo com a teoria de Karl Marx, temos uma tríplice visão do
homem: suas raízes se firmam na estrutura econômica, ou seja, nas relações
materiais da existência, em segundo, devemos reconhecer o homem como essência
determinável em abstrato e em terceiro, como ele descobre-se em sua relação com o outro.
Para
Honneth, a “teoria para explicar a realidade política e social” coloca o homem
como ser social, logo, esse tema também envolve o documento do Ministério da
Educação que cita: “Construir a qualidade
social pressupõe conhecimento dos interesses sociais da comunidade escolar para
que seja possível educar e cuidar mediante interação efetivada entre princípios
e finalidades educacionais, objetivos, conhecimentos e concepções curriculares”
Para
obter a qualidade social, o trabalho na escola deve reconhecer que “o homem é um ser social, mas está
historicamente condicionado pelas relações que mantem com os outros homens e
com a natureza e pelas exigências do trabalho produtivo responsável pela sua
transformação e seu desenvolvimento”. Neste sentido, a escola prepara seus
adolescente e jovens para os princípios e finalidades do mundo do trabalho,
pois de acordo com Marx, “somente nas relações de trabalho que o homem se realiza
como ser humano.”
Preparar
os alunos para o mundo do trabalho e suas exigências implica segundo Marx,
reconhecer que é essa relação homem e trabalho que difere o mesmo do animal.
Desse modo, as escolas públicas foram aos poucos se estruturando para assumir
uma função de proteção ao sistema capitalista. Para Habermas: a partir da possibilidade de que o
capitalismo passou a ser controlado pelo Estado, as duas tendências essenciais
para a emancipação presentes na teoria marxista a do colapso interno, em razão
da queda tendencial da taxa de lucro, e aquela da organização do proletariado
contra a dominação do capital – tinham sido neutralizadas. Portanto, segundo Habermas, era necessário
repensar o próprio sentido de emancipação da sociedade.
Neste
aspecto, para entendermos a função social da escola, temo que levar em
consideração as ideias de Honneth, que diz: “racionalidade e ação social operam por princípios de integração social opostos”. Esta teoria também foi
defendida por Habermas na “concepção de
sociedade com dois polos e nada a mediar sobre eles, ou seja, uma ideia de
sociedade que se coloca entre as estruturas econômicas que determina a
socialização do indivíduo, sem considerar o mediador essencial”. Isto
significa deixar os conflitos ocorrerem livremente ou até propiciar as
condições ideais para que estes aconteçam em espaços como a escola.
Esta
lacuna entre diferentes classes econômicas e culturas, cria o que Honneth chama
de “déficit sociológico inaugural” ou seja, algo desenvolvido pela
estrutura estatal, onde “o próprio
sistema e sua lógica instrumental é resultado de permanentes conflitos sociais,
capazes de moldá-los conforme a correlações de forças políticas e sociais”.
Desse modo, as pessoas formam uma espécie de “cobaias”, que após observações de
como elas reagem, surgem novas normas ou resoluções, no caso da educação.
Destas
observações guiadas pelas situações de conflitos, Honneth concorda com Habermas
que é preciso construir a teoria critica em bases intersubjetivas e com componentes universalistas. Se as
interações conflituosas oferecem os instrumentos, cabe a escola buscar por meio
da gestão democrática, soluções coletivas com valores universais para aplicação
na prática cotidiana, pois “a base de interação é o conflito, e sua gramática,
a luta por reconhecimento” que possa combinar interesses individuais e valores
reconhecidos como universais.
Aqui,
temos que citar Honneth, que diz: “Essa
luta não é marcada por objetivos (...) ela é originada de uma experiencia de desrespeito social, de um ataque a identidade pessoal
e/ou coletiva, capaz de provocar uma ação que busque restaurar relações de
reconhecimento mútuo ou justamente desenvolvê-las num nível evolutivo superior”
No entanto, se a escola além de ser um espaço criado para gerar o conflito,
também se transformou nas últimas décadas, num lugar de desrespeito entre os membros
da chamada comunidade escolar, que se provocam em indisciplina, agressões
verbais, físicas e todo tipo de ameaças, agora também é um espaço de transformação.
Para
Honneth, “é possível ver nas diversas lutas por reconhecimento uma força moral
que impulsiona desenvolvimentos sociais. O
conflito social é o objetivo central da Teoria Critica e é possível extrair
se dele critérios normativos” Consequentemente,
a escola cumpre essa função social quando usa a experiencia do desrespeito e dos conflitos sociais, para se
desenvolver na construção de sua proposta pedagógica, já que, Axel Honneth ,
recomenda que “partindo dos conflitos
e de suas estruturas sociais e institucionais, em busca de seus princípios
lógicos, vê a possibilidade de construir uma
teoria do social que se aproxime das ciências humanas e de suas aplicabilidades empíricas”.
Para
Honneth, trata-se da Teoria da intersubjetividade, e esta, dependente de três
formas de reconhecimento (amor, direito e estima). Se na escola esses valores
já estão em prática, logo conclui o filósofo sobre estas formas de
identificação afirmando “que correspondem a três formas de desrespeito onde a
experiencia influencia no aparecimento dos conflitos sociais na qualidade de
motivo da ação”. Na escola, o conflito vem da experiência do aluno, do
professor, do funcionário, da família, dos gestores entre outros.
Para
os valores de vivência de cada ator da comunidade escolar, acrescentamos
segundo Honneth, que: “a experiencia de desrespeito social pode suscitar uma
pessoa a entrar em conflito prático”. Neste sentido, no ambiente escolar, os
chamados “barracos” pode se enquadrar como “o elo psíquico que dirige do sofrimento
a ação ativa, informando intelectivamente o sujeito atingido em relação a sua
situação social”.
Desse
modo, Honneth nos esclarece que a origem deste sentimento dos membros da
comunidade escolar vem da psicologia pragmática de Dewey, pois “nos escritos
sobre sua concepção de sentimento humano que ele encontrou fundamentação para
essas questões” John Dewey aponta que “a experiencia do desrespeito sempre vem
acompanhada de sentimentos afetivos que em princípio pode revelar ao indivíduo
que determinadas formas de reconhecimento lhe são socialmente denegadas’.
Os
conflitos e as atitudes de desrespeito no ambiente escolar pode ser entendidos
segundo a teoria crítica de Honneth como: “vivencias de contrachoque”. Quando
alguém faz um professor ou funcionário sair desesperado do espaço escolar,
houve para Dewey uma reação afetiva que ele chama de “contrachoque do triunfo” por parte do vencedor. E por outro lado,
ocorre um contrachoque “do infortúnio
de nossas intenções práticas” ou
seja, o sujeito “se sente de menor valor
porque feriu uma norma moral que constitui um dos princípios de seus próprios
ideais de ego”
Neste
segundo caso, o trabalhador em choque pelo desrespeito, diante da situação de
conflito, Honneth afirma que esse “indivíduo é forçado por um sentimento de
ausência do próprio valor” e que para preencher esse vazio angustiante, esse
profissional irá evoluir com a invenção de novos critérios e normas, ações e
projetos, que expostas ao coletivo, talvez possa ser incorporada na sociedade.
Em
outro sentido, Honneth fala que “a agitação emocional que governa o indivíduo
quando ele não pode continuar a agir, por conta da experiencia do desrespeito
para com os anseios de seu ego”, no caso da escola, podemos acrescentar que
isto se transforma em desânimo, faltas dias, horas não trabalhadas, licenças
médicas agravadas por doenças do sistema nervoso, entre outras consequências.
A
Teoria do Reconhecimento de Honneth e as Contribuições para os processos educativos
se resumem segundo Artigo Publicado por Rubilar Tomasi IFRS ‐ Campus Sertão, da seguinte
maneira:
Em sua teoria crítica Honneth retoma as
teses do jovem Hegel e as confronta empiricamente com a psicologia crítica de
Mead para explorar um tipo de conflito que é motivado por experiências de
desrespeito que afetam a identidade individual ou coletiva. O reconhecimento
nas diferentes esferas é o que torna possível a formação de indivíduos com
autoconfiança, com autorrespeito e autoestima e o
desrespeito, a negação do reconhecimento e as patologias sociais, que são
lesivas à formação da identidade individual e coletiva, também poderão criar
condições psíquicas que motivarão o indivíduo a entrar em conflito, exigindo
seu reconhecimento. Na socialização, que também ocorre de forma conflitiva, o
indivíduo necessita ser reconhecido para se autorrealizar e para ter uma
autorrelação positiva, o que também será condição para a formação de sua
autonomia e para possibilitar sua emancipação. O presente artigo tem por
objetivo compreender a teoria do reconhecimento de Honneth e mostrar como é
possível encontrar, em tal teoria, um importante vínculo entre conflito e
formação e que esta compreensão poderá significar uma grande contribuição para
os processos educativos na formação de alunos autônomos e emancipados.
É
neste ponto da teoria que faço questão de repetir para o paciente leitor: “o
desrespeito, a negação do
reconhecimento e as patologias sociais, que são lesivas à formação da
identidade individual e coletiva,
também poderão criar condições psíquicas que motivarão o indivíduo a entrar em
conflito, exigindo seu reconhecimento. Na socialização, que também ocorre
de forma conflitiva, o indivíduo necessita ser reconhecido para se
autorrealizar e para ter uma autorrelação positiva, o que também será condição para a formação de sua
autonomia e para possibilitar sua emancipação”.
Fontes:
Revista filosofia Ano X n.145 Editora Escala Oficial – Luta por reconhecimento
social : Conflitos orientam uma teoria crítica da sociedade, após a terceira
geração da Escola de Frankfurt. P.54
Honneth,
Axel. Crítica del Poder: fases em la reflexion de uma Teoria Crítica de la
Sociedad. Madri: Machado Editora, 2009.
Honneth,
Axel.. Luta por Reconhecimento: a gramática moral dos conflitos sociais. 2 ed.
São Paulo: Editora 34, 2009 p. 213 -224.
Rubilar Tomasi. A
TEORIA DO RECONHECIMENTO DE HONNETH E AS
CONTRIBUIÇÕES PARA OS PROCESSOS
EDUCATIVOS